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segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

24 de dezembro - Pai...saudades...Comemorar, recordar - Rubem ALves

As rosas tem significado pessoal - 
 "um simbolo de amor eterno entre eu, minha filha e meu pai"... !
24 de dezembro - aniversario de meu PAI -
Saudades demais...
 
 
A saudade é um buraco na alma que se abriu
quando um pedaço nos foi arrancado.
No buraco da saudade mora
 a memória daquilo que amamos,
tivemos
e
perdemos.
A saudade é a presença de uma ausência.
***
 
A saudade abre as portas
para os lugares mais fechados,
e mais belos de nossas mentes.
Até o silêncio torna-se aliado da saudade...
Um quarto silencioso é o local mais apropriado
para que essa tal da saudade apareça...
E ela vem... Medindo o amor...
E dizendo “você não cabe em um lugar tão pequeno!
Precisa sair” e o amor sai...
Derrama-se pelo rosto
e o “buraco dolorido na alma” fica maior...





*Rubem Alves*

 
 
Comemorar, recordar...
 
É preciso preparar a alma com antecedência para o evento. O tempo da "comemoração" se aproxima. Comemorar quer dizer "trazer de novo à memória". Para quê? Para que se cumpra o ditado popular que diz "recordar é viver". Dentre todos os seres vivos os seres humanos são os únicos que se alimentam do passado. Eles comem aquilo que já deixou de existir.
 
Proust deu o nome de "Em Busca do Tempo Perdido" à sua obra clássica. Se está perdido irremediavelmente no passado, por que se entregar à tarefa inútil de procurá-lo?
 
Por fora, no mundo cotidiano do trabalho, estamos em busca de coisas novas. Mas a alma, nas penumbras em que mora, vive à procura de coisas velhas. Alma é saudade. Saudade é a inclinação da alma na direção das coisas amadas que se perderam. Foram perdidas e, a despeito disso, continuam presentes como dor: "...Que a saudade dói latejada, é assim como uma fisgada no membro que já perdi..." Saudade é a presença de uma ausência.

 
Para a saudade não existe cura. Tudo o que podemos dar a ela como consolo é inútil. Por isso, Fernando Pessoa escreveu: "Mas por mais rosas e lírios que me dês, eu nunca acharei que a vida é bastante. Faltar-me-á sempre qualquer coisa, sobrar-me-á sempre de que desejar..." A alma é como um queijo suíço, toda cheia de buracos que doem no seu vazio...

 
Há um esquecer que é uma felicidade. É como mar que limpa e alisa a areia que os humanos haviam pisado na véspera sem pedir desculpas. Já tive essa estranha sensação bem cedo na praia diante da areia lisa, um sentimento de culpa por machucá-la com meus pés... O esquecimento alisa a areia. Tudo fica puro, como se fosse a primeira vez. Isso, do lado de fora. Mas lá no fundo, onde mora a saudade, não há esquecimento. Porque lá só moram as coisas que foram amadas. E o amor não suporta o esquecimento. "Aquilo que a memória ama fica eterno", escreveu a Adélia.

 
Há a estória daquele homem dilacerado pela dor da saudade de sua amada que morrera. Em desespero, dirigiu-se aos deuses pedindo que a devolvessem. "A morte é mais forte que nós", responderam os deuses. "Não podemos devolver o que a morte levou. Mas podemos pôr um fim ao seu sofrimento. Podemos fazê-lo esquecer a sua amada. Podemos curá-lo da saudade..." Horrorizado o homem respondeu: "Não, mil vezes não! Pois é o meu sofrimento que a mantém viva junto de mim!"

 
Palavra boa para dizer isso, parente de "comemorar", é "re-cordar". Pus o hífen de propósito para destacar o "cordar", que vem do latim "cor", que quer dizer "coração". Há memórias que moram na cabeça, muito úteis. Se nos esquecemos delas, cuidado! Pode ser Alzheimer se anunciando! Essas memórias não doem, são informações que levamos no bolso, ferramentas. Mas há outras memórias que moram no coração, são parte da gente. O Chico sabia e escreveu: "Oh pedaço arrancado de mim..."

 
Já estou preparando a minha alma para o evento. O Natal vai fisgar o membro que já perdi. Perdi a minha infância. Gostaria mesmo era de ir para um mosteiro, longe de comilanças, presentes e risos. Num mosteiro eu poderia experimentar a bem-aventurança na alma que Fernando Pessoa descreveu como a alegria de não precisar de estar alegre... Eu gosto da minha tristeza natalina. Ela é verdadeira.

 
 Sou como aquele apaixonado que não queria ser curado da saudade...
*Rubem Alves*


domingo, 1 de abril de 2012

Tempo da Delicadeza R.A. - O outono da vida by Rose Colaneri


Imagem de Mihai Criste


Esta faltando…tempo…TEMPO PARA AMAR VERDADEIRAMENTE!

Alem do tempo da delicadeza, falta o tempo do respeito, da lealdade, da sinceridade, nao existe tempo para o AMOR...

o que se ve muito nos relacionamentos hoje é a busca do engrandecimento do ego.. da quantidade,..”peguei aquela(s)”, “transei com aquele(s)”,

nao ha mais sentimentos, nem vontade para conviver, conhecer melhor uma pessoa,

falta tolerancia, falta compreensao de que somos diferentes em muitas coisas mas,

igualmente queremos amar e ser amados,

respeitar e sermos respeitados…

queremos viver um pouco de alegria nesse mundo tao castigado de crueldades..

um dia nossa luz se apagara para sempre e o que nao foi vivido, nunca o sera…

Ha tantas pessoas maduras agindo como adolescentes sem responsabilidade ou experiencia,

nao se importando com as consequencias de seus atos na vida do outro…que pode sofrer demais,

muitas vezes pode perder o rumo de sua vida apos um relacionamento onde nao houve respeito com seus sentimentos…

a vida é fragil demais,

nunca saberemos o quanto o outro ficou ferido e magoado,

nem como reage frente a essa liquidez de contatos..


A fila anda !!


Não!!!


Nao ha sequer tempo mais para formar fila!!!


Familias sao destruidas pela falta de respeito nos relacionamentos… é muito triste isso…quanto desamor!!!

é preciso ter certeza antes de dizer “eu te amo”,

antes de prometer estar sempre ao lado de uma pessoa,

antes de fazer o outro acreditar que é amado

esta faltando mais responsabilidade para com o que se diz, com o que se sente,

responsabilidade com as mudancas ocasionadas quando se entra na vida de uma outra pessoa,

porque acontecem mudancas que podem afetar muito e negativamente o outro ser.

Respeito, responsabilidade…muitos passam anos desrespeitando achando que isso é normal…nada demais!!

O carater de uma pessoa se revela em suas ações e nao em suas palavras!


Hoje ficou tao banal o “EU TE AMO”,virou slogan de sedução, de atrativo pessoal no mundo virtual…

e enaltecimento de uma persona nao verdadeira..inexistente..

a todo momento se fala eu te amo, como se para isso bastasse somente ser adicionado em suas pagina sociais …

quanta banalizacao, decadencia de um sentimento nobre!


O tempo passa, as feridas sangram e as pessoas vao se afastando daquilo que buscaram por toda uma vida:

Ser feliz ao lado de quem ama!!

Cuidado com as marcas que vc anda deixando nas pessoas que passam por sua vida…

E preciso amar [DE VERDADE] as pessoas como se nao houvesse amanha”..

sim, o amanha é incerto, a impermanencia é muitas vezes cruel,

o que nao foi feito, o que nao foi dito,as desculpas que nao foram pedidas,

amores que nao foram declarados e vividos não terao mais seu tempo terreno..

as vidas se vao…muito rapido…

e o vazio aumenta…muito!

E doi………………………………..


“Uma pessoa nao é um doce que vc come, enjoa e empurra o prato” A.D.


Delicadeza so existe no AMOR e no RESPEITO !


Quem sabe as pessoas maduras emocionalmente e espiritualmente ainda se encontrem um dia no outono da vida.

para aproveitar ao maximo o tempo da delicadeza…

o tempo do amor maduro,

do amor respeito,

do amor lealdade,

do amor dedicacao,

do amor dialogo,

do amor companhia,

do amor que compartilha risos e prantos, alegrias e tristezas, fracassos e conquistas,

do amor que supera dificuldades e diferenças,

do AMOR que so quer…AMAR!!


Rose Colaneri


Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente…

*Chico Buarque*



Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu”, diz o texto sagrado.
O amor também tem os seus tempos e ele muda como mudam as estações.
Nos países frios, a primavera é o tempo da pressa.
Os bulbos, que por meses haviam hibernado sob o gelo, repentinamente despertam do seu sono,
rompem da noite para o dia a camada de neve que os cobria e exibem, sem o menor pudor,
os seus órgãos sexuais coloridos e perfumados, suas flores.
”Que lindas…”, dizemos. Ignoramos que aquela é uma beleza apressada.
A primavera é curta. Outro inverno virá.
É preciso espalhar o sêmen com urgência, para garantir a continuidade da vida.
Por isso se exibem assim, em sua nudez colorida e perfumada, para atrair os parceiros do amor.
Se as plantas pensassem, teriam os mesmos pensamentos que têm os jovens quando neles desperta o sexo, em todo o seu furor de realizar-se
É só isto que importa: o coito. Passado o êxtase. Vai-se o interesse, fuma-se um cigarro, vira-se para o lado…


O verão é o tempo em que a fúria reprodutiva já se esgotou. Tempo maduro, tempo do trabalho dos filhos, das rotinas domésticas.
Os mesmos olhos que se excitavam ao contemplar o corpo nu da pessoa amada já não se excitam.
Já não sorriem nem têm palavras poéticas a dizer sobre ele. Há uma rotina sexual a ser cumprida.
Vai-se o encantamento, os olhos e as mãos se cansam da mesmice e começam a procurar outros corpos
e vem a saudade da juventude que já passou.
Cumprido o ato, vem o silêncio.
O outono é a estação de uma nova descoberta. Não há urgência. Nenhuma obrigação.
A natureza está tranqüila.
Na adolescência qualquer mulher servia, porque o sexo era comandado pelas pressões vulcânicas dos hormônios e pelos genitais.
Agora o que excita é o rosto da pessoa amada.
O sexo deixa de ser movido pela bioquímica que circula no sangue e passa a ser movido pela beleza.
O amor se torna uma experiência estética.
E o que os amantes outonais mais desejam não são os fogos de artifício do orgasmo,
mas aquela voz que diz: “Como é bom que você exista…”


O outono é o tempo da tranqüilidade. É bom estar juntos, de mãos dadas, sem fazer nada.
É bom acariciar o cabelo da amada…
Esta é a grande queixa das mulheres – que para os homens a intimidade é sempre preparatória de uma transa.
Talvez porque se sintam obrigados a provar que ainda são homens. O que as mulheres desejam não é o prazer, é felicidade.
O outono é o tempo do amor feliz.
O Chico escreveu sobre esse tempo e lhe deu o nome de “tempo da delicadeza”, na canção “Todo o sentimento”.

“Preciso não dormir até se consumar o tempo da gente…”
Sim, preciso não dormir, preciso não morrer, porque há muito amor ainda não realizado.

“Vem-lhe então a memória do amor que, por descuido, não se realizou, e via em busca da sua recuperação:
Pretendo descobrir no último momento um tempo que refaz o que desfez…”
Esse verso me comove de maneira especial. Pensando no meu desajeito, na minha desatenção, vou lembrando das coisas que derrubei,
das palavras que nao ouvi, das flores que pisei. E dá uma vontade de fazer o tempo voltar para poder refazer o que foi desfeito,
para recolher todo o sentimento e colocá-lo no corpo outra vez…


Aí ele vai mansamente dizendo as palavras que o amor deve saber dizer, palavras que só existem no “tempo da delicadeza”.
“Prometo te querer até o amor cair doente, doente…”
Por isso, por causa desse tempo misterioso, é preciso amar cuidadosamente com o olhar,
com os ouvidos, com a mão que tateia para não ferir… enquanto há tempo.

****
Lembrei-me do amor de Florentino Ariza por Fermina Daza, de o Amor nos tempos do cólera.
Tiveram de esperar 53 anos e passaram o resto da vida navegando no rio da delicadeza.

*Rubem Alves*

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Kairós - As batidas do coração - Rubem Alves





O tempo se mede com batidas.
Pode ser medido com batidas de um relógio (chronos)
ou pode ser medido com as batidas do coração (kairós).
Ao coração falta a precisão dos cronômetros.
Sua batidas dançam ao ritmo da vida - e da morte...
Nossa civilização tem palavras para dizer
o tempo dos relógios: a ciência,
mas perdeu as palavras para dizer
o tempo do coração.
Coração não entende chronos.
Coração entende vida.
Kairós mede a vida pelas pulsações do amor.
Chronos me diz que eu nada possuo.
Nem mesmo meu corpo.
O relógio é o tempo do dever,
corpo engaiolado.
Kairós vem em meu socorro,
para espantar a tristeza.
Diz-me que o tempo é uma criança.
Convida-me a brincar com chronos.
Cada momento de brinquedo
é uma eternidade completa.
A vida tem que ser uma namorada.
O amor vale pelo momento.

*Rubem Alves*

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

A INVEJA - Rubem Alves

Arte surrealista de Mihai Criste


Certamente vc conhece alguém assim,
pois o mundo esta repleto de seres doentes na alma querendo ser aquilo que nunca poderão ser, então...INVEJAM !
Mas nunca chegarão a ser como o ser invejado e isso por si soh já basta!

"Não inveje..faça melhor!"
Rose

Ahhhhhhhhhhhhhhhhh, 


A   I.N.V.E.J.A. 

Esse texto faz parte de uma cronica de Rubem Alves , sobre um homem que encontrou uma garrafa na qual vivia um gênio que tinha o poder para realizar todos os seus sonhos. Por aquele gênio ele seria levado ao lugar onde todos os
 nossos sonhos são realizados. O gênio saiu da garrafa onde estivera adormecido e lhe disse: 

"Tenho o poder de transformar em

  realidade todos os seus sonhos, sem nenhum limite. É só você me contar o seu sonho, e ele acontecerá."


O homem começou então a pensar nas coisas maravilhosas que iria pedir: um corpo jovem, sem dores ou doenças, cheio de beleza, energia, casas nos lugares mais lindos das montanhas e das praias, com jardins exuberantes; cozinhas onde se fariam as mais deliciosas comidas e bebidas; música; livros; amigos; amor… Ah! Ele era um homem refinado, com gosto apurado, e sabia escolher boas e excelentes coisas! Seria um ser humano feliz! E assim os seus olhos iam tranqüilamente passeando pelos seus sonhos, antegozando a felicidade ilimitada que iria gozar dentro de alguns momentos.


Foi quando o gênio lhe disse: "Há apenas um detalhe que me esqueci de mencionar, porque acho que é irrelevante. Tudo o que você tiver, o seu pior inimigo vai ter em dobro…" Foi o gênio falar e aconteceu com os olhos do homem aquilo que escrevemos (…): eles, que até então descansavam nas coisas que iriam fazê-lo feliz além de tudo o que imaginara, começaram a olhar para as coisas que seu inimigo iria ter. E quando voltaram de novo para suas próprias coisas, aquelas mesmas que, apenas um momento antes, o haviam feito o homem mais feliz do mundo, descobriu que todas elas, neste segundo em que seu olhar dançara, haviam apodrecido. A inveja é um verme que faz apodrecer o fruto delicioso que estávamos para comer. A inveja nos deixa de mãos vazias. É importante que se entenda logo para se compreender o fim da estória:
"Já sei o que quero pedir", disse o homem ao gênio, depois de longa meditação.
"Pois faça o seu pedido", disse o gênio.

"Me fure um olho…"


*Rubem Alves*

 
*****************************************


"Ciúme é querer manter o que se tem; 
Cobiça é querer o que não se tem; 
Inveja é não querer que o outro tenha. 

inveja é um vírus que se caracteriza pela ausência de sintomas aparentes. 

O ódio espuma. 

A preguiça se derrama. 

A gula engorda.

 A avareza acumula.

 A luxúria se oferece. 

O orgulho brilha. 

Só a inveja se esconde. 


Como adverte a emergente Vera Loyola:

 ‘O verdadeiro amigo não é o solidário na desgraça, mas o que suporta o seu sucesso". 

*Zuenir Ventura in Mal Secreto*


E a pobre da Regina - USA- esta muito doente da alma! Tadinha :)

sábado, 27 de agosto de 2011

Valeu a pena ??? By Rose Colaneri and Rubem Alves








Sempre chega um momento em nossas vidas que nos questionamos: Valeu a pena?

Parafraseando Fernando Pessoa : Valeu a pena, se a alma não é pequena”. Cada um sabe quantas dores lhe cabe na alma e como as suporta, cada um sabe o que faz com aquilo que o fez sofrer ou sorrir. Cada um sabe a dor e a delicia de ser o que é (Caetano Veloso).

Nessas experiências de vida é que tomamos consciência do poder da força e da fé que possuímos, ou não, do amor que temos dentro de nós e de sua potência perante os desafios, descobrimos o quão grande é a fragilidade de ser e estar, e quanto pesa a dor da escuridão da alma...

dos silêncios...desencontros...abandonos...solidão...desamor...

e o encontro consigo mesmo.

Muitos se perderam no caminho para depois se encontrar, muitos se perderam no caminho somente para hibernar e nada mudar, muitos se perderam no caminho para realmente se perder...cada um conhece somente a dor que lhe cabe verdadeiramente, cada um sabe de si somente...

“Não importa o que fizeram com você.
O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você”.
Jean Paul Sartre





Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!




Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Fernando Pessoa

Ninguém passa por sua vida sem deixar uma marca...algumas são feridas que doem e sangram, outras são o bálsamo que lhe ajudará a cicatrizar essas feridas, outras deixam seu perfume encantador e enriquecedora sabedoria. Algumas marcas somem com o tempo...outras ficam como cicatrizes bem visíveis como prova de aprendizado para que não se repitam os mesmos erros...outras...as marcas do bem ficam eternas como perfume no ar...que a qualquer momento pode voltar a ser exalado...Às pessoas que por vezes passam tão rapidamente por nós dando exemplos de amor e superação devemos toda gratidão e carinho, essas são as verdadeiras conquistas pessoais, que ficam marcadas no coração...mesmo que passem como um relâmpago, um momento fugaz, mas são momentos de êxtase profundo que sobreviverão para sempre na memória e na saudade...

Esses breves instantes de vida, os bons, é que devem ser valorizados intensamente...são neles que moram nossas melhores recordações, neles residem nossa saudade hoje, porque saudades só sentimos daquilo que foi bom, mesmo que tenha sido por um instante ou por mais tempo. O que importa é na verdade termos a consciência que tudo é efêmero existencialmente, mas eterno na lembrança de nossos corações, emoções...que o eterno dentro de nós só abrigue as emoções do amor e nunca as de mágoas!

Pessoas entram e saem de nossas vidas, procure deixar nelas a melhor impressão de caráter, de lealdade, honestidade, bondade, respeito, amor, carinho, ternura...é isso que faz de você uma pessoa especial que certamente Vale a pena !!!!!

Porque a vida acontece agora no hoje...amanhã pode não existir , não deixe ninguém com mágoa de você...poderá não haver outro momento para curar feridas!!! Faça sempre Valer a pena!!!!!!!!!!!!

By Rose Colaneri


"Só é possível transformar-se na medida em que já se é."
Friedrich Novalis




Não compares tua vida com a dos outros. Não tens idéia do caminho que eles andaram”.

“Antes de me julgar, ande com as minhas sandálias”.

*.*



Por Rubem Alves




Ali estávamos nós quatro: você, eu, I-Ching e Beethoven. As moedas iam marcando a direção do oráculo-luz para sua pergunta. Mas você não sabia que há perguntas para as quais o livro dos oráculos não tem respostas. Porque ele foi escrito para aqueles que, diante do escuro do futuro, procuram um conselho de prudência:
Que fazer?

O livro não diz o que vai acontecer, porque ele não sabe. Suas respostas são como a previsão do tempo: tempo bom com nebulosidade; tempo instável, sujeito a chuvas; temperatura em declínio, aproxima-se um furacão… Ninguém que navega em barca a vela se atreve mar adentro sem antes lançar suas moedas e perguntar ao tempo o que o futuro reserva. Os que ignoram as advertências do tempo poderão pagar com a vida. Ulysses Guimarães pagou. Nunca mais foi achado. Acostumado ao poder, achou que poderia desafiar o tempo. Perdeu. Assim é o I-Ching: um oráculo que anuncia o tempo do Tao.

Tao é o nome do mar onde a vida navega. Cedia Meireles entendia:

Muitas velas, muitos reinos, âncora é outro falar, tempo que navegaremos não se pode calcular…

Não é possível derrotar o mar absoluto com os remos que temos nas mãos. É preciso fazer como quem navega: levantar as velas, direcionar o leme, e deixar-se levar pelo vento misterioso da vida…Mas você não estava pedindo um conselho de prudência sobre o futuro. Você pedia uma palavra de sabedoria sobre o passado.

Valeu a pena?

Tantos rochedos, tantas tempestades, tantas velas rasgadas e recosturadas, tantos mastros quebrados e consertados… Valeu a pena? E eu senti, na sua pergunta, uma outra mais terrível – se não teria sido melhor ter naufragado…E o I-Ching não soube que resposta dar. Talvez porque a resposta já estivesse no ar,um hexagrama inexistente onde estivesse escrito: Pergunta ao Beethoven!Já na cama, eu perguntei ao Beethoven. A gente estava ouvindo o último movimento da Nona Sinfonia.

Por várias vezes a orquestra cantara o tema, começando com os veludos dos violoncelos, os ouvidos tinham de prestar atenção, pois a música parecia um sussurro. Aos poucos os outros instrumentos foram acordando, saindo do seu silêncio, até que todos se puseram a tocar com força sobre-humana. Talvez este tenha sido o esforço supremo de Beethoven para ouvir aquela beleza perfeita que só ouvia com a alma, pois seus ouvidos já nada ouviam.

Valeu a pena?

A orquestra, então, como um golpe de marretas, uma cadência trágica e furiosa, interrompe a beleza celestial do tema num grito de revolta que diz: Não, não valeu a pena! Ao final, parece que o trágico leva a melhor. Mas isso era resposta que Beethoven não podia aceitar, ainda que fosse oráculo de I-Ching. E ele pede socorro de alguém maior que todos os oráculos. Ele chama um poeta. O poeta vem e canta sobre o trágico canto, o seu canto de alegria:

Oh! amigos – não cantemos assim: Cantemos com prazer maior, com mais alegria! Alegria! Alegria! Centelha de Deus! Todas as criaturas bebem dela, nos seios da natureza.

Faz muitos anos eu li o livro Lições de Abismo, de Gustavo Corção. É a história de um homem, nos seus 50 anos, que descobre que tem apenas mais seis meses de vida. Sem tempo para construir o futuro, ele olha para trás, na tentativa de ouvir alguma melodia que se tivesse anunciado em meio às dissonâncias de sua vida. E se perguntava:



Valeu a pena?



Que bom seria se fôssemos como uma sonata de Mozart, só 20 minutos, mas nesses minutos tudo o que é para ser dito, é dito!

Coitado! Ele não percebeu que a vida de alguém não se mede pelo número de anos vividos, da mesma forma como a beleza não pode ser medida pela duração da melodia. Beethoven disse tudo o que era para ser dito em 50 minutos. Mozart dizia o essencial em 20minutos. E Milton Nascimento faz a mesma coisa em quatro minutos. A Adélia Prado precisa apenas de 30 segundos. Blake dizia que a eternidade mora num grão de areia e pode ser contida na palma da mão. Com o que Borges concorda:

A vida é feita de momentos .

Valeu a pena?

A sua pergunta está respondida nos curtos momentos da Nona Sinfonia.

Curtos, mas destinados à eternidade.

“Cada momento de alegria, cada instante efêmero de beleza, cada minuto de amor, são razões suficientes para uma vida inteira. A beleza de um único momento eterno vale a pena de todos os sofrimentos”.







quinta-feira, 23 de setembro de 2010

É Primavera !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!! By Rose Colaneri







É Primavera !!!

Chega enfim a estação mais bonita...onde as flores estão em seu mais alto esplendor...o perfume está no ar...a despeito do que estamos sentindo nesse momento, a primavera está aí...e quem tem “olhos” para apreciar poderá ver e sentir o poder das flores. Elas são criadas no plano etérico e chegam a nós através de “anjos”. Essa beleza é mais uma prova de Amor de Deus por nós...

Há o jardim de fora e o jardim de dentro...se cultivarmos bons sentimentos, nosso jardim interior será sempre florido como a primavera, o de fora, indiferente à tudo, sempre florescerá, mas algumas pessoas não conseguirão vê-lo...como diz Cecília Meireles : “A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la”.


Grandiosa é a alma que abriga flores das mais variadas espécies, por cultivar o solo dos sentimentos com os melhores fertilizantes e as mais belas sementes: Amor, gratidão, compreensão, perdão e compaixão.

Viva a Primavera intensamente, a energia das flores está no ar...flor é beleza, delicadeza, suavidade, é amor...mas também é impermanência...como tudo em nossas vidas, portanto não deixe para apreciá-las amanhã, assim como não deixe para viver...amanhã!!

Rose Colaneri

Todo jardim começa com um sonho de amor. Antes que qualquer árvore seja plantada, ou qualquer lago seja construído é preciso que as árvores e os lagos tenham nascido dentro da alma.Quem não tem jardim por dentro, não planta jardim por fora. E nem passeia neles".

Rubem Alves

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A beleza dos sentimentos - Rubem Alves







Porque hoje é aniversário de Rubem Alves e o vídeo é especial para ele.
Parabéns Rubem Alves !




"Chega um dia que faz a gente parar e prestar atenção:
o dia do aniversário.
No dia do aniversário a gente diz:
“Passou mais um ano da minha vida“.
Jeito bobo. Os números não dizem nada.
Há um verso sagrado que diz:
“Ensina-me a contar os nossos dias de tal maneira
que alcancemos corações sábios.“
Muita gente envelhece sem ficar sábio.
O que é um sábio?
Sábio não é quem sabe muito.
Sábio é quem come a vida
como se ela fosse um fruto saboroso.
O que dá prazer e alegria não são coisas grandes,
festas com bolo, bexigas e presentes.
O que dá alegria são coisas pequenas.
Por exemplo: brincar com um cachorrinho.
Balançar num balanço.
Andar na água fria de um riachinho.
Ver um ipê florido. Ler um livro.
Armar um quebra-cabeças.
Ver fotografias antigas.
O sábio presta atenção nos prazeres
e alegrias de cada momento".


"Nasci no dia 15 de setembro de 1933. Faça as contas para saber quantos anos não tenho. Que "não tenho", sim; porque o número que você vai encontrar se refere aos anos que não tenho mais, para sempre perdidos no passado. Os que ainda tenho, não sei, ninguém sabe..."

Rubem Alves


A BELEZA DOS SENTIMENTOS DE RUBEM ALVES


“Se te perguntarem quem era essa que às areias e gelos quis ensinar a primavera...”: é assim que Cecília Meireles inicia um dos seus poemas. Ensinar primavera às areias e gelos é coisa difícil. Gelos e areias nada sabem sobre primaveras... Pois eu desejaria saber ensinar a solidariedade a quem nada sabe sobre ela. O mundo seria melhor. Mas como ensiná-la?

Será possível ensinar a beleza de uma sonata de Mozart a um surdo? Como? - se ele não ouve. E poderei ensinar a beleza das telas de Monet a um cego? De que pedagogia irei me valer para comunicar cores e formas a quem não vê? Há coisas que não podem ser ensinadas. Há coisas que estão além das palavras. Os cientistas, filósofos e professores são aqueles que se dedicam a ensinar as coisas que podem ser ensinadas. Coisas que podem ser ensinadas são aquelas que podem ser ditas. Sobre a solidariedade muitas coisas podem ser ditas. Por exemplo: acho possível desenvolver uma psicologia da solidariedade. Acho também possível desenvolver uma sociologia da solidariedade. E, filosoficamente, uma ética da solidariedade... Mas os saberes científicos e filosóficos da solidariedade não ensinam a solidariedade, da mesma forma como a crítica da música e da pintura não ensina às pessoas a beleza da música e da pintura. A beleza é inefável; está além das palavras.

Palavras que ensinam são gaiolas para pássaros engaioláveis. Os saberes, todos eles, são pássaros engaiolados. Mas a solidariedade é um pássaro que não pode ser engaiolado. Ela não pode ser dita. A solidariedade pertence a uma classe de pássaros que só existem em vôo. Engaiolados, esses pássaros morrem.

A beleza é um desses pássaros. A beleza está além das palavras. Walt Whitman tinha consciência disso quando disse: "Sermões e lógicas jamais convencem. O peso da noite cala bem mais fundo em minha alma... Ele conhecia os limites das suas próprias palavras. E Fernando Pessoa sabia que aquilo que o poeta quer comunicar não se encontra nas palavras que ele diz: ela aparece nos espaços vazios que se abrem entre elas, as palavras. Nesse espaço vazio se ouve uma música. Mas essa música - de onde vem ela se não foi o poeta que a tocou?

Não é possível fazer uma prova colegial sobre a beleza porque ela não é um conhecimento. E nem é possível comandar a emoção diante da beleza. Somente atos podem ser comandados. Ordinário! Marche!", o sargento ordena. Os recrutas obedecem. Marcham. À ordem segue-se o ato. Mas sentimentos não podem ser comandados. Não posso ordenar que alguém sinta a beleza que estou sentindo.

O que pode ser ensinado são as coisas que moram no mundo de fora: astronomia, física, química, gramática, anatomia, números, letras, palavras. Mas há coisas que não estão do lado de fora. Coisas que moram dentro do corpo. Enterradas na carne, como se fossem SEMENTES À ESPERA...

Sim, sim! Imagine isso: o corpo como um grande canteiro! Nele se encontram, adormecidas, em estado de latência, as mais variadas sementes - lembre-se da estória da Bela Adormecida! Elas poderão acordar, brotar. Mas poderão também não brotar. Tudo depende... As sementes não brotarão se sobre elas houver uma pedra. E também pode acontecer que, depois de brotar, elas sejam arrancadas... De fato, muitas plantas precisam ser arrancadas, antes que cresçam. Nos jardins há pragas: tiriricas, picões...

Uma dessas sementes tem o nome de "solidariedade". A solidariedade não é uma entidade do mundo de fora, ao lado de estrelas, pedras, mercadorias, dinheiro, contratos. Se ela fosse uma entidade do mundo de fora ela poderia ser ensinada. A solidariedade é uma entidade do mundo interior. Solidariedade nem se ensina, nem se ordena, nem se produz. A solidariedade, semente, tem de nascer.

Veja o ipê florido! Nasceu de uma semente. Depois de crescer não será necessária nenhuma técnica, nenhum estímulo, nenhum truque para que ele floresça. Angelus Silésius, místico antigo, tem um verso que diz: “A rosa não tem por quês. Ela floresce porque floresce." O ipê floresce porque floresce. Seu florescer é um simples transbordar natural da sua verdade.

A solidariedade é como o ipê: nasce e floresce. Mas não em decorrência de mandamentos éticos ou religiosos. Não se pode ordenar: "Seja solidário!" Ela acontece como simples transbordamento. Da mesma forma como o poema é um transbordamento da alma do poeta e a canção um transbordamento da alma do compositor...

Disse que solidariedade é um sentimento. É esse o sentimento que nos torna humanos. É um sentimento estranho - que perturba nossos próprios sentimentos. A solidariedade me faz sentir sentimentos que não são meus, que são de um outro. Acontece assim: eu vejo uma criança vendendo balas num semáforo. Ela me pede que eu compre um pacotinho das suas balas. Eu e a criança - dois corpos separados e distintos. Mas, ao olhar para ela, estremeço: algo em mim me faz imaginar aquilo que ela está sentindo. E então, por uma magia inexplicável, esse sentimento imaginado se aloja junto aos meus próprios sentimentos. Na verdade, desaloja meus sentimentos, pois eu vinha vindo, no meu carro, com sentimentos leves e alegres, e agora esse novo sentimento se coloca no lugar deles. O que sinto não são meus sentimentos. Foi-se a leveza e a alegria que me faziam cantar. Agora, são os sentimentos daquele menino que estão dentro de mim. Meu corpo sofre uma transformação: ele não é mais limitado pela pele que o cobre. Expande-se.

Ele está agora ligado a outro corpo que passa a ser parte dele mesmo. Isso não acontece nem por decisão racional, nem por convicção religiosa e nem por um mandamento ético. É o jeito natural de ser do meu próprio corpo, movido pela solidariedade. Acho que esse é o sentido do dito de Jesus que temos de amar o próximo como amamos a nós mesmos. Pela magia do sentimento de solidariedade o meu corpo passa a ser morada do outro. É assim que acontece a bondade.

Mas fica pendente a pergunta inicial: como ensinar primaveras a gelos e areias? Para isso as palavras do conhecimento são inúteis. Seria necessário fazer nascer ipês no meio dos gelos e das areias! E eu só conheço uma palavra que tem esse poder: a palavra dos poetas. Ensinar solidariedade? Que se façam ouvir as palavras dos poetas nas igrejas, nas escolas, nas empresas, nas casas, na televisão, nos bares, nas reuniões políticas, e, principalmente, na solidão...

O menino me olhou com olhos suplicantes.

E, de repente, eu era um menino que olhava com olhos suplicantes...

Fonte:
http://stoa.usp.br/anacesar

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