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domingo, 24 de julho de 2011

A humildade do Mestre
















A Humildade do MestrePor Denys Bernard

Uma vez existiu na China um homem que, sendo possuidor de uma imensa bondade, levava uma vida pura e em harmonia com todos os seres da natureza.
Até que um dia, Deus enviou um anjo para falar com ele, e lhe disse:
- Deus quer compensá-lo por suas boas ações.

- Não é necessário - respondeu o homem.
- E se você tivesse o Dom de curar? - perguntou o anjo.
- De maneira alguma! - disse ele - Eu não saberia como distinguir quem merecesse ou não ser curado.
- E se possuísse o Dom da palavra que transforma? - insistiu o anjo - Você poderia atrair as pessoas para o caminho da Verdade.
- Não quero ser venerado por ninguém. Gostaria de continuar sendo uma pessoa simples - foi a resposta.

- Preocupado, o anjo disse:
- Não posso voltar para de onde vim sem antes ter lhe concedido uma graça, um milagre ou um Dom. Se você não escolher, será obrigado a aceitar qualquer um.
O homem pensou por um momento, e disse:
- A partir de hoje, gostaria que o Bem que eu possa fazer ninguém perceba que fui eu - e acrescentou - Nem mesmo eu devo saber; alimentaria a minha vaidade.
Satisfeito, o anjo fez um gesto e a sombra do homem passou a ter o poder de abençoar e de curar. Mas isto só aconteceria quando seu rosto estivesse na direção do sol. Desta forma, por onde ele fosse, os doentes seriam aliviados, a terra seca se tornaria fértil e as pessoas tristes voltariam a sorrir.

Este homem caminhou muitos anos pela Terra sem jamais saber dos milagres que realizava, pois quando o sol batia em seu rosto sua sombra sempre estava detrás dele.
Assim, ele viveu e morreu sem nunca ter consciência da sua própria Santidade.

* * * * *

O nome deste personagem era Lao Tsé. Viveu na China no século V a.C. num período em que o país enfrentava muitas guerras e problemas políticos.
Morou sempre sozinho, mas sempre recebia a todos com amor. Não teve seguidores, nem nunca os permitiu. Defendia a liberdade de crença e não acreditava em diferenças sociais. Não gostava de honrarias. Sempre que possível, evitava ter de ir ao Palácio Real quando o príncipe o chamava.

Dotado de uma sensibilidade extraordinária, gostava de receber o amanhecer caminhando pelo bosque, respirando e meditando com a brisa matinal. Contam que nessas caminhadas houve um soldado que o seguia de longe. Seu nome era Lin Hsi, e admirava Lao Tsé pela paz que fluía da sua pessoa.

Ao alcançar uma idade avançada e pressentindo que a China seria invadida pelos mongóis, Lao Tsé decidiu deixar o Império saindo pelo portão Oeste, rumo à Ásia central. Foi quando o soldado Lin Hsi o tomou como prisioneiro.

- Amigo, sou muito velho para participar da guerra. - disse Lao Tsé.
- Não queira me enganar! - disse o soldado - Sei quem você é! Durante anos segui-o pelo bosque nas suas caminhadas ao amanhecer. Os milagres aconteciam sob sua sombra por onde você passava. Portanto, você deve ser um santo, um mestre ou um sábio.
- Agora o reconheço, - disse Lao Tsé - algumas vezes senti sua presença, ao longe, no bosque.

O soldado o levou até sua casa, e disse:
- Registre para mim um pouco da sua sabedoria. Não quero que a História deixe de saber quem foi Lao Tsé. Escreva um livro antes de partir. Enquanto isso será meu prisioneiro.
É claro que ficaram amigos e Lao Tsé se tornou seu hóspede. Após um pernoite, escreveu 5000 palavras que chamou de "TAO TÉ CHING" ou "Livro do Caminho Perfeito". A sua linguagem misteriosa e condensada, não admite leitura superficial, pois só vai sendo revelada aos poucos conforme o leitor abre seu coração à Verdade.

A partir do livro surgiu o "Taoísmo", filosofia que inspirou Confúcio, serviu de base do Budismo Ch’an ou Zen, e cuja influência é indiscutível no pensamento da China.
Talvez a maior virtude de Lao Tsé fosse a humildade. Ele dizia:
- SABEIS PORQUE O MAR E OS RIOS SÃO SUPERIORES AOS RIACHOS DAS MONTANHAS? POIS, PORQUE SABEM MANTER-SE SEMPRE ABAIXO DELES.Conhecedor profundo do ser humano, sabia que todos vivemos em dois mundos paralelos: o mundo exterior e o mundo interior ou sutil. Às vezes, o passado se torna mais importante que o presente. Às vezes, o sonho é mais real que a realidade.
Nos escritos de Chuang Tsú, mestre taoísta do século III a.C., narra-se um sonho que teve Lao Tsé, descrito com seus próprios versos:
"SONHEI QUE ERA BORBOLETA.
E FOI UM SONHO TÃO REAL
QUE AO ACORDAR,
EU NÃO SABIA MAIS
SE ERA UM HOMEM
QUE SONHOU QUE ERA BORBOLETA
OU UMA BORBOLETA
SONHANDO QUE ERA HOMEM".

sábado, 16 de outubro de 2010

Receita de Mulher By Rose Colaneri e A nudez de Martha Medeiros









Receita de mulher
“As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental”.

*Vinícius de Moraes*

Será ??

Quando eu era criança e assistia aos filmes de Rita Hayworth (imagem) desejava ser bonita como ela...com a adolescencia, descobri que para isso eu teria que nascer novamente, ou fazer mil cirurgias plásticas... na minha inocência infanto-juvenil eu achava que para ser feliz era necessário ser bonita. O tempo passou e a vida me mostrou que beleza não é fundamental, me desculpe Vinícius, mas beleza muitas vezes pode ser sinônimo de infelicidade...quantas mulheres bonitas só são vistas por fora?

Quantas mulheres bonitas são amadas ou melhor, desejadas somente pela atração física que sua beleza exerce? E esses relacionamentos são tão vazios e acabam tão rapidamente quanto começam ou se tornam totalmente destrutivos, aos poucos minam a beleza, minam a alegria, minam a vontade de viver da “bela”. Poucas pessoas buscam a essência, poucas são as que conseguem enxergar, que uma pessoa é bonita não pelo que é por fora, que é efêmero...mas uma pessoa é bonita pela bagagem que carrega na alma...esse sim é o verdadeiro diagnóstico de beleza humana! As ações realizadas no bem, a gratidão, a fé, a compaixão, a caridade, saber amar, ser verdadeira, leal, honesta, esses são os verdadeiros conceitos de beleza...e essa beleza é eterna, fica impregnada na alma de quem exerce ...


Desculpem-me as bonitas só por fora, mas beleza interior é fundamental ...

Fundamental é se despir das máscaras, escancarar a ternura, demonstrar amor, afeto, carinho, "ser" e não “ter”...
Fundamental é buscar aprendizados, exercitar o cérebro e não só o corpo...

Fundamental é não ser perfeita, é se despir do orgulho e saber compreender e muitas vezes aceitar o que é, e não o que seu coração deseja...

Fundamental é ser mulher na essência...é embelezar a Alma...é ser Puro Amor !

Rose Colaneri



A... Nudez

Depois da invenção do photoshop, até a mais insignificante das criaturas vira uma deusa,basta uns retoquezinhos, aqui e ali.
Nunca vi tanta mulher nua.

Os sites da internet renovam semanalmente seu estoque de gatas vertiginosas. O que não falta é candidata para tirar a roupa.Dá uma grana boa.
E o namorado apóia, o pai fica orgulhoso, a mãe acha um acontecimento, as amigas invejam, então pudor pra quê?

Não sei se os homens estão radiantes com esta multiplicação de peitos e bundas.Infelizes não devem estar, mas duvido que algo que se tornou tão banal ainda enfeitice os que têm mais de 14 anos.

Talvez a verdadeira excitação esteja, hoje, em ver uma mulher se despir de verdade...
emocionalmente.

Nudez pode ter um significado diferente e muito mais intenso.

É assistir a uma mulher desabotoar suas fantasias, suas dores, sua história.

É erótico ver uma mulher que sorri, que chora, que vacila, que fica linda sendo sincera, que fica uma delícia sendo divertida, que deixa qualquer um maluco sendo inteligente.

Uma mulher que diz o que pensa, o que sente e o que pretende, sem meias-verdades,
sem esconder seus pequenos defeitos.
Aliás, deveríamos nos orgulhar de nossas falhas, é o que nos torna humanas,e não bonecas de porcelana.

Arrebatador é assistir ao desnudamento de uma mulher em quem sempre se poderá confiar, mesmo que vire ex, mesmo que saiba demais.
Pouco tempo atrás, posar nua ainda era uma excentricidade das artistas, lembro que esperava-se com ansiedade a revista que traria um ensaio de Dina Sfat, por exemplo

- pra citar uma mulher que sempre teve mais o que mostrar além do próprio corpo.

Mas agora não há mais charme nem suspense, estamos na era das mulheres coisificadas,
que posam nuas porque consideram um degrau na carreira.

Até é.

Na maioria das vezes, rumo à decadência.

Escadas servem para descer também.

Não é fácil tirar a roupa e ficar pendurada numa banca de jornal mas, difícil por difícil, também é complicado abrir mão de pudores verbais, expor nossos segredos e insanidades, revelar nosso interior.

Mas é o que devemos continuar fazendo.
Despir nossa alma e mostrar pra valer quem somos, o que trazemos por dentro.
Não conheço strip-tease mais sedutor.

Outro tipo de mulher nua...

Autora: Martha Medeiros





sábado, 12 de junho de 2010

Vista cansada





Namaste!

Algumas pessoas passam pela vida totalmente cegas, não conseguem ver a beleza que há numa poesia, num quadro, num livro, numa música, não viajam com a alma, não sonham com amor e carinho, não mostram nenhum interesse pelo sentimento humano, não enxergam nem dão valor aos que estão ao seu lado, seus olhos só alcançam a si mesmas, numa atitude egoísta e individualista, materialista até... de somente TER e nunca SER.

Essas pessoas precisam perder realmente para valorizar...que triste isso!

Quem passa pela vida procrastinando relacionamentos, sentimentos, emoções e afetividade, nunca viveu e se não acordar a tempo...nunca viverá. Quem fere sua criança interior, perde a inocência mágica da alegria desinteressada, a curiosidade primária que nos leva a conhecer o belo na essência que se manifesta através da mente e visão infantis...Quem perde sua essência infantil perde sua espontaneidade. Vira máquina do ego materialista e egoísta!

Há tanta beleza no mundo...pequenas coisas tão sutis e de uma beleza encantadora capazes de nos emocionar intensamente e muitos não conseguem ver...os cegos não enxergam pessoas ao lado, simbolismos diários, chacoalhões que os acordem, e nem tão pouco, a beleza magnifica da natureza...

Essas pessoas "cegas" nunca poderão dizer que estiveram vivas...

A vida está presente no sutil, nas boas emoções, na pureza do amor, na inocência da criança e no HOJE, porque amanhã pode ser muito tarde para viver !
Rose Colaneri

Como diz o sábio Rubem Alves:
Há muitas pessoas de visão perfeita que nada vêem.
O ato de ver não é coisa natural.
Precisa ser aprendido.
Se os olhos estão na caixa de ferramentas,
eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática.
Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas
- e ajustamos a nossa ação.
O ver se subordina ao fazer.
Isso é necessário.
Mas é muito pobre.
Os olhos não gozam...
Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos,
eles se transformam em órgãos de prazer:
brincam com o que vêem,
olham pelo prazer de olhar,
querem fazer amor com o mundo.
Os olhos que moram na caixa de ferramentas
são os olhos dos adultos.
Os olhos que moram na caixa dos brinquedos, das crianças.
Para ter olhos brincalhões,
é preciso ter as crianças por nossas mestras.
Vista cansada

Otto Lara Resende


Acho que foi o Hemingway quem disse que olhava cada coisa à sua volta como se a visse pela última vez. Pela última ou pela primeira vez? Pela primeira vez foi outro escritor quem disse. Essa idéia de olhar pela última vez tem algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem não crê que a vida continua, não admira que o Hemingway tenha acabado como acabou.

Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não-vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.

Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio do seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e às vezes lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer.

Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima idéia. Em 32 anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa, cumprindo o rito, pode ser também que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos.

Uma criança vê o que o adulto não vê.
Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo.
O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de fato, ninguém vê.
Há pai que nunca viu o próprio filho.
Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas.
Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos.
É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.


Texto publicado no jornal “Folha de S. Paulo”, edição de 23 de fevereiro de 1992.

domingo, 6 de junho de 2010

Até que a distância os separe








Até que a distância os separe
por Nelson Sganzerla




Eu confesso: Sou romântico! A minha geração passou pelos anos 70 onde se gritava o bordão PAZ E AMOR, tempos do Rock in Rio, Led Zeppelin, Genesis, Dylan, mas também existia o bar, o banquinho e um violão onde todos entoavam o refrão: "Vi tanta areia andei, da lua cheia eu sei, cansei de ser sozinha", época da Cuba-Libre e dos bailes de garagem, Bethania surgia cantando Gonzaguinha e lendo maravilhosos textos de Fauzi Arap.

Sou do tempo que toda garota tinha em sua estante aqueles bolachões com músicas temas das principais novelas das oito e todo fim-de-semana nos reuníamos na casa de alguém para ouvirmos aquela doce melodia, que embalava nossas paixões, às vezes até secretas, pela nossa timidez. Lembro-me quando não se era correspondido no amor, se dizia: Estou em uma fossa danada.

Nessa época, a droga não existia em nossas rodas. Claro que o pessoal do PAZ e AMOR já peregrinavam pelo LSD e outras drogas, mas eram pessoas mais velhas. Nós éramos todos românticos e sonhadores, ninguém possuía carro, mas percorríamos quilômetros a pé pelas ruas do nosso bairro em busca de aventuras amorosas e, no domingo, fazíamos o balanço das nossas eventuais conquistas.
Não sou saudosista, mas confesso que naquela época os relacionamentos eram outros. Nossa maior balada eram os bailinhos de garagem, a matinê no Clube ou o cinema no final das tardes de domingo, que sempre terminavam em uma lanchonete comendo um hambúrguer e saboreando um Milk Shake.

O ponto é: o que acontece hoje em dia com os relacionamentos? Está tudo tão vazio em torno do amor, que os jovens estão andando em círculos em busca de um prazer que é efêmero. Beijava-se pouco, mas se amava muito... Hoje isso se inverteu, beija-se muito e ama-se pouco. Não existe um começo um meio e um fim. Na época, trocávamos cartas e bilhetes na saída da escola; hoje, troca-se música no MP3 e no Ipod e cada um na sua.

Hoje se mistura álcool, drogas e energizantes com direção... e se mata pela madrugada, achando natural essa loucura. Reúnem-se em lojas de conveniências, envolvendo-se em brigas homéricas e covardes, muitas vezes tirando suas próprias vidas, por banalidades difíceis para o entendimento dos pais que sofrem por não saber o que os filhos estão fazendo, nas ruas.

Já na fase adulta, que acontece com o relacionamento do homem, que não entende uma poesia, não sabe distinguir verso de prosa, nunca leu um romance e sente sono ao assistir um drama, alegando que as "letrinhas" são muito pequenas e seu único assunto são as peripécias com seu carro, sua moto, ou o time de futebol, naquelas horrendas rodinhas que se formam ao redor do churrasco aos domingos.

O que acontece com a mulher, que pela evolução tornou-se mais bonita e exuberante, é independente financeiramente, dona de si, mas sonha com um abraço apertado e um ombro amigo como porto seguro que lhe permita a paz e a quietude depois de um dia duro e estressante de trabalho, e por mais bonita, inteligente e exuberante que seja não encontra esse companheiro...

Onde anda o romantismo nos relacionamentos, respeito, admiração, orgulho da pessoa que está ao seu lado, onde anda o amor que todos buscam? Ao contrário, o que se vê são mulheres amedrontadas e escorraçadas pelos seus maridos, agredidas na frente dos filhos. Ao contrário, o que se vê, são homens fracos, mesquinhos, egoístas sem escrúpulo, que não aceitam o fim de um relacionamento tendo sua macheza ferida e vingada com a morte da companheira.

Relacionamento é uma via de duas mãos, uma troca onde existe o prazer, de procurar fazer o outro feliz, nas pequenas coisas do dia-a-dia, esse mundo que aí está nos tornou frios e céticos em relação ao amor ao romantismo e ao bem querer, ninguém consegue mais dizer: Eu te amo! Ninguém consegue mais olhar no olho, ninguém mais tem coragem para amar, ninguém mais senta e conversa, ninguém mais revê fotos do casamento, ou daquela viagem que foi dos sonhos.

Relacionamento é repetir as mesmas coisas, todos os dias, sem medo de ser chato, de cair no ridículo. Relacionamento é deixar de ser macho para ser homem, entender que mulher gosta de carinho e não de porrada. Relacionamento é a mulher também deixar de querer ser dona de si e criticar menos o seu companheiro para também lhe dar mais carinho e atenção.

Relacionamentos acabam, porque ambos deixam de ser o que eram antes do casamento. Em algum lugar, nesse caminho, as pessoas se perdem e daí a distância torna-se muito grande entre eles, mesmo que ainda permaneçam juntos vivendo sob o mesmo teto, ou se encurta essa distância, ou essa mesma distância mais cedo ou mais tarde, certamente irá separá-los.

Pense nisso.

sábado, 22 de maio de 2010

Tempo







RELÓGIO DO CORAÇÃO

Há tempos em nossa vida que contam de forma diferente.
Há semanas que duraram anos, como há anos que não contaram um dia.

Há paixões que foram eternas, como há amigos que passaram céleres, apesar do calendário mostrar que eles ficaram por anos em nossas agendas.

Há amores não realizados que deixaram olhares de meses, e beijos não dados que até hoje esperam o desfecho.

Há trabalhos que nos tomaram décadas de nosso tempo na terra, mas que nossa memória insiste em contá-los como semanas.

Há casamentos que, ao olhar para trás, mal preenchem os feriados das folhinhas.

Há tristezas que nos paralisaram por meses, mas que hoje, passados os dias difíceis, mal guardamos lembranças de horas.

Há eventos que marcaram, e que duram para sempre,
o nascimento do filho, a morte do pai, a viagem inesquecível, um sonho realizado.
Estes têm a duração que nos ensina o significado da palavra “eternidade”.

Já viajei para a mesma cidade uma centena de vezes, e na maioria das vezes o tempo transcorrido foi o mesmo.

Mas conforme meu espírito, houve viagem que não teve fim até hoje, como há percurso que nem me lembro de ter feito, tão feliz eu estava na ocasião.

O relógio do coração – hoje eu descubro - bate noutra freqüência daquele que carrego no pulso.

Marca um tempo diferente, de emoções que perduram e que mostram o verdadeiro tempo da gente.

Por este relógio, velhice é coisa de quem não conseguiu esticar o tempo que temos no mundo.

É olhar as rugas e não perceber a maturidade.
É pensar antes naquilo que não foi feito, ao invés de se alegrar e sorrir com as lembranças da vida.

Pense nisso.
E consulte sempre o relógio do coração:
Ele te mostrará o verdadeiro tempo do mundo.

Alexandre Pelegi


O TEMPO - MÁRIO QUINTANA.


A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal...
Quando se vê, já terminou o ano...
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado...
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas...
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo...

E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

Mário Quintana


Namaste!
Porque deixar sempre tudo para amanhã? Será que o amanhã existirá?? Não tenha tanta certeza disso...não temos o controle da vida e muito menos do tempo...tudo passa...e não volta...e deixamos de viver hoje por esperarmos sempre pelo amanhã... Rose

domingo, 28 de março de 2010

Migalhas






Migalhas

Ora, se é para ir na feira e escolher a fruta,
escolha a melhor!
leve para casa a mais suculenta, mais brilhante, mais doce.
Se é para ir ao açougue, e se o dinheiro dá,
leve a melhor carne,
se pode comprar filet-mignon vai levar “coxão-duro” para o bife?
Vai comprar uma roupa?
Então escolha o melhor tecido, o melhor caimento e por favor:
escolha o número que se ajuste ao seu corpo.

Na hora do perfume, gosto não se discute, cada um com o seu,
mas por favor, não exagere, perfume é complemento, não é banho.
Vai prestar um concurso?
Então primeiro estude, depois faça promessa,
porque eu te garanto, nenhum “santo” ,“vai descer” em você para fazer a sua prova.
Todo mundo quer o melhor da vida!

Mas, poucos sabem o que é “o melhor”.

Nos pedidos que fazem aos céus são infantis,
acham que voltar com tal pessoa é o máximo,
quando poderiam pedir para conhecer alguém
que realmente valha a pena.

Muitos “bacharéis” estão tentando uma vaga de gari na prefeitura do Rio,
tentando roubar a oportunidade de quem precisa ser “gari”.
E pode apostar, “vai chover” promessa para passar no concurso.

Gente desistindo da luta no meio do caminho,
gente topando “qualquer coisa” para “ser feliz”,
dando dízimo da aposentadoria da mãe,
comprando fitinha benzida pelo “sei lá quem”,
e a auto-estima no chão, derrubada, vazia.

É hora de acreditar no seu potencial!

É hora de pedir caviar aos céus,
acreditando que você merece o melhor.

É hora de deixar o vale da lamentação, dos gemidos,
das doenças imaginárias e virar o jogo.

CHEGA!

Chega de sofrer até pelo que não existe!

Só você, criatura divina, pode mudar o seu jogo.
Não tem pastor, santo, anjo, padre abençoado,
nem fita mágica que dê um jeito em quem não quer ter jeito!

Faça a sua parte, desperte, lute!

Caiu? levante!

escorregou? apoie-se!

errou? peça perdão e recomece.

chorou? limpe o rosto e prossiga!

doeu? assopre e siga!

tá sem rumo? Compre um guia.

Amou? que bom, aprendeu o valor do amor.

Não deu certo? comece de novo.

É este o dia certo, para a pessoa certa, na hora certa:
você é a pessoa certa, na hora certa, no dia certo.
O resto é confusão mental.
Por favor, queira ser feliz e lute por esse direito,
a vitória só depende de você,

não aceite migalhas!

Paulo Gaefke

sábado, 13 de março de 2010

A marca










Namaste!


No decorrer de nossa passagem tão breve nesse planeta, muitas pessoas entrarão e sairão de nosso convívio...deixamos nelas nossas marcas e elas nos deixam as suas...
Se agimos pelo coração e com bondade amorosa, nossas marcas deixarão boas lembranças, saudades e bem querer. Resta a cada um saber como agir durante a estada das pessoas em nossas vidas... agir com o coração e pelo coração!  Todo momento é o momento certo de fazer o bem à alguém. O amor é um exercício diário !


Rose



A Marca
Quando eu era criança, bem novinha, meu pai comprou o primeiro telefone da nossa vizinhança. Eu ainda me lembro daquele aparelho preto e brilhante que ficava na cômoda da sala. Eu era muito pequeno para alcançar o telefone, mas ficava ouvindo fascinado enquanto minha mãe falava com alguém.

Então, um dia eu descobri que dentro daquele objeto maravilhoso morava uma pessoa legal. O nome dela era "Uma informação, por favor" e não havia nada que ela não soubesse. "Uma informação, por favor" poderia fornecer qualquer número de telefone e até a hora certa.

Minha primeira experiência pessoal com esse gênio na garrafa veio num dia em que minha mãe estava fora, na casa de um vizinho. Eu estava na garagem mexendo na caixa de ferramentas quando bati em meu dedo com um martelo.
A dor era terrível mas não havia motivo para chorar, uma vez que não tinha ninguém em casa para me oferecer a sua simpatia.

Eu andava pela casa, chupando o dedo dolorido até que pensei:
O telefone!
Rapidamente fui até o porão, peguei uma pequena escada que coloquei em frente à cômoda da sala. Subi na escada, tirei o fone do gancho e segurei contra o ouvido.

Alguém atendeu e eu disse:

"Uma informação, por favor".

Ouvi uns dois ou três cliques e uma voz suave e nítida falou em meu ouvido.

"Informações.“

"Eu machuquei meu dedo...", disse, e as lágrimas vieram facilmente, agora que eu tinha audiência.

"A sua mãe não está em casa?", ela perguntou.

- "Não tem ninguém aqui...", eu soluçava.
"Está sangrando?"

- "Não", respondi. "Eu machuquei o dedo com o martelo, mas tá doendo..."

"Você consegue abrir o congelador?", ela perguntou.

Eu respondi que sim.

- "Então pegue um cubo de gelo e passe no seu dedo", disse a voz.

Depois daquele dia, eu ligava para "Uma informação, por favor" por qualquer motivo.
Ela me ajudou com as minhas dúvidas de geografia e me ensinou onde ficava a Filadélfia. Ela me ajudou com os exercícios de matemática. Ela me ensinou que o pequeno esquilo que eu trouxe do bosque deveria comer nozes e frutinhas.

Então, um dia, Petey, meu canário, morreu. Eu liguei para "Uma informação, por favor" e contei o ocorrido. Ela escutou e começou a falar aquelas coisas que se dizem para uma criança que está crescendo. Mas eu estava inconsolável.
Eu perguntava: "Por que é que os passarinhos cantam tão lindamente e trazem tanta alegria pra gente para, no fim, acabar como um monte de penas no fundo de uma gaiola?"

Ela deve ter compreendido a minha preocupação, porque acrescentou mansamente: "Paul, sempre lembre que existem outros mundos onde a gente pode cantar também..."
De alguma maneira, depois disso eu me senti melhor.

No outro dia, lá estava eu de novo. "Informações.", disse a voz já tão familiar. "Você sabe como se escreve 'exceção'?"

Tudo isso aconteceu na minha cidade natal ao norte do Pacifico.
Quando eu tinha 9 anos, nós nos mudamos para Boston. Eu sentia muita falta da minha amiga. "Uma informação, por favor" pertencia aquele velho aparelho telefônico preto e eu não sentia nenhuma atração pelo nosso novo aparelho telefônico branquinho que ficava na nova cômoda na nova sala.

Conforme eu crescia, as lembranças daquelas conversas infantis nunca saiam da minha memória. Freqüentemente,em momentos de duvida ou perplexidade, eu tentava recuperar o sentimento calmo de segurança que eu tinha naquele tempo.
Hoje eu entendo como ela era paciente, compreensiva e gentil ao perder tempo atendendo as ligações de um menininho.

Alguns anos depois, quando estava indo para a faculdade, meu avião teve uma escala em Seattle. Eu teria mais ou menos meia hora entre os dois vôos. Falei ao telefone com minha irmã, que morava lá, por 15 minutos.
Então, sem nem mesmo sentir que estava fazendo isso, disquei o número da operadora daquela minha cidade natal e pedi:
- "Uma informação, por favor."

Como num milagre, eu ouvi a mesma voz doce e clara que conhecia tão bem, dizendo: "Informações." Eu não tinha planejado isso, mas me peguei perguntando: "Você sabe como se escreve 'exceção'?" Houve uma longa pausa.
Então, veio uma resposta suave: "Eu acho que o seu dedo já melhorou, Paul."
Eu ri. "Então, é você mesma!", eu disse. "Você não imagina como era importante para mim naquele tempo."
- "Eu imagino", ela disse. "E você não sabe o quanto significavam para mim aquelas ligações. Eu não tenho filhos e ficava esperando todos os dias que você ligasse."

Eu contei para ela o quanto pensei nela todos esses anos e perguntei se poderia visitá-la quando fosse encontrar a minha irmã.
- "É claro!", ela respondeu. "Venha até aqui e chame a Sally.“
Três meses depois eu fui a Seattle visitar minha irmã. Quando liguei, uma voz diferente respondeu: "Informações." Eu pedi para chamar a Sally.

"Você é amigo dela?", a voz perguntou.
- "Sou, um velho amigo. O meu nome é Paul."

"Eu sinto muito, mas a Sally estava trabalhando aqui apenas meio período porque estava doente. Infelizmente, ela morreu há cinco semanas.“
Antes que eu pudesse desligar, a voz perguntou:
- "Espere um pouco. Você disse que o seu nome é Paul?
- "Sim.“
- "A Sally deixou uma mensagem para você. Ela escreveu e pediu para eu guardar caso você ligasse. Eu vou ler pra você."

A mensagem dizia:

"Diga à ele que eu ainda acredito que existem outros mundos onde a gente pode cantar também. Ele vai entender."

Eu agradeci e desliguei.
Eu entendi...


NUNCA SUBESTIME A "MARCA" QUE VOCÊ DEIXA NAS PESSOAS
Autor Desconhecido

domingo, 7 de março de 2010

Vai Passar







Vai passar

Vai passar, tu sabes que vai passar.

Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada “impulso vital”.

Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como “estou contente outra vez”. Ou simplesmente “continuo”, porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como “sempre” ou “nunca”.

Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como “não resistirei” por outras mais mansas, como “sei que vai passar”. Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.

Claro que no começo não terás sono ou dormirás demais. Fumarás muito, também, e talvez até mesmo te permitas tomar alguns desses comprimidos para disfarçar a dor.

Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de “uma ausência”.

E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços.

Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio. E morbidamente talvez enumeres todas as vezes que a loucura, a morte, a fome, a doença, a violência e o desespero roçaram teus ombros e os de teus amigos. Serão tantas que desistirás de contar. Então fingirás - aplicadamente, fingirás acreditar que no próximo ano tudo será diferente, que as coisas sempre se renovam.

Embora saibas que há perdas realmente irreparáveis e que um braço amputado jamais se reconstituirá sozinho. Achando graça, pensarás com inveja na largatixa, regenerando sua própria cauda cortada. Mas no espelho cru, os teus olhos já não acham graça.

Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás, no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever uma carta tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa.

Já não é tempo de desesperos. Refreias quase seguro as vontades impossíveis. Depois repetes, muitas vezes, como quem masca, ruminas uma frase escrita faz algum tempo. Qualquer coisa assim:

- … mastiga a ameixa frouxa. Mastiga , mastiga, mastiga: inventa o gosto insípido na boca seca

Caio Fernando Abreu

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Reflexão


- Belíssima obra de Jim Warren -









"A vida é o oceano

A tristeza e a felicidade são os ventos

Os pensamentos são as pontas das montanhas, que se
erguem como ilhas

A vida de uma pessoa é o seu veleiro.

Uma pessoa em harmonia
É aquela que sabe usar os ventos
como força para se impulsionar,

usar as ilhas para o seu descanso na sua jornada,
apreciar o balanço das ondas, como elas devem ser,

E ao final da jornada,
abrir um sorriso e dizer:

a viagem valeu!


Uma pessoa em desarmonia

É aquela que sempre transforma os ventos numa tempestade,
Que ignora as ilhas, e as vêem como
obstáculos as suas jornadas,

Que acha que as ondas só podem estar no topo,

Que no fim da jornada apenas conta quantas vezes as ondas
desceram e quantas vezes o barco virou. "

Chao Lung Wen.


Preserve o autor

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

O despertador está tocando







Namaste!



O Despertador está Tocando

que tal acordar e prestar atenção em você mesmo!!!

Na Índia, os mestres sempre dizem:
os problemas são despertadores que tentam acordar as pessoas para a vida.

Aproveite para acordar logo, antes que o próximo despertador faça mais barulho.

Pense nisso:
o que essa dificuldade está querendo mostrar a você?

Problemas são avisos que a vida nos envia para corrigir algo que não estamos fazendo bem.
Problemas e doenças são sinais de emergência para que possamos transformar nossas vidas.

Aliás, problemas e doenças guardam muita semelhança entre si. Infelizmente, a maioria das pessoas, quando fica doente, cai num lamentável estado de prostração ou simplesmente toma remédio para tratar os sintomas em vez de fazer uma pausa para refletir sobre os avisos que essa doença está enviando.

São poucos os que se perguntam:
"Por que meu organismo ficou enfraquecido e permitiu que a doença o atacasse?"

Uma doença é sempre um aviso, embora muita gente não preste atenção nele.
Assim como os problemas, os sintomas vão piorando na tentativa de fazer com que você
entenda o recado.

No começo pode ser uma leve dor de cabeça, um recado para que você pare e analise o que está faltando em sua vida.
Mas você não tem tempo, toma um analgésico e nem percebe direito que a dor está aumentando.

Então, a dor piora, mas você vai à acupuntura para aliviá-la e não presta atenção quando o médico diz que o tratamento é paliativo e que você precisa mudar seu estilo de vida para eliminar as causas da doença.

As doenças são recados que precisamos levar a sério, principalmente as doenças que se repetem.

Dores de cabeça,
alergias de pele,
má digestão,
todos esses distúrbios querem nos mostrar algo.
Saber procurar e achar as causas deles é uma atitude muito sábia.

Nossos inimigos, da mesma forma que os problemas e as doenças, são gritos de alerta para cuidarmos de algo que não está certo em nossa vida.

Quando os ouvimos com atenção, nossos inimigos podem se transformar em maravilhosas alavancas de crescimento pessoal.

Assim como as doenças e os inimigos, os problemas nos enviam avisos que precisamos aprender a decodificar.

Se você tem um problema que está se repetindo em sua vida, é chegada a hora de fazer
uma análise do seu significado para poder superá-lo.

E tenha muito claro que, no momento em que supera um problema que o acompanha
por algum tempo, uma nova pessoa nasce dentro de você.

Roberto Shinyashiki


Copie com amor, conserve o nome do autor.

Muitos tentam...poucos conseguem! real sem hipocrisia

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Edelweiss









EDELWEISS

Silvana Duboc

E é no início do ano de 1939 que começa a nossa história.

Vivíamos na Áustria, um país coberto por flores, eu, meus pais e meu irmão. Éramos a imagem da família feliz e unida e entre nós reinava a certeza que nada na vida conseguiria nos separar, mas não foi bem assim.

Meu pai era um cirurgião de renome, minha mãe professora, daquelas dedicadas, que lecionava por puro amor aos seus alunos.

Eu tinha então dez anos e meu irmão quinze. Nossos dias e nossas noites eram muito alegres. Meus pais tinham o hábito de nos levarem até a varanda de nossa casa após o jantar para vermos as estrelas e enquanto fazíamos isso, cada um ia contando as coisas boas que haviam acontecido no seu dia. Não que não pudéssemos contar as ruins, mas é que naquela época das nossas vidas só aconteciam coisas boas.
Não me recordo de algum dia ter visto um deles triste.

Depois que contávamos tudo e que admirávamos bastante as estrelas, cantávamos ao som do violão do meu irmão. A primeira música sempre era Edelweiss, linda, sonora, trazia paz aos nossos corações.
Ah! como era bom cantar Edelweiss junto da minha família e debaixo das estrelas, eu tinha a sensação que poderia fazer aquilo a vida toda sem jamais enjoar.

Mas, enfim, o tempo foi passando e veio a guerra e só se ouvia falar em Hitler e eu não entendia bem que homem era aquele, nem o que ele representava e então eu continuava todas as noites olhando para as estrelas junto das pessoas que eu mais amava.

Um dia, um terrível dia de dezembro que jamais esquecerei, tivemos que partir. Me lembro que meu pai veio até nós e nos disse delicadamente:

"Vamos ter que passar algum tempo sem ver as estrelas no céu"

Fomos covardemente arrancados de nossa casa por soldados, fomos levados a um local que viria a ser a nossa nova casa, chamava-se campo de concentração.

Lá, não fomos felizes e lá eu pude ver pela primeira vez o semblante da minha família triste, nem pareciam aquelas pessoas adoráveis que conviviam comigo naquela varanda.

Todas as noites eu dizia à minha mãe que queria ver as estrelas, cantar sob elas e ela me respondia com lágrimas nos olhos que durante um pequeno período a única estrela que eu poderia ver era a que eu trazia pendura no pescoço, de seis pontas, tão linda quanto as que brilhavam no céu.

Acontece que minha mãe se enganou, não foi um período tão curto assim que ficamos por lá e com o tempo foram me levando muito mais coisas além das estrelas do céu, foram me levando tudo.

Levaram-me a estrela do pescoço também, levaram meus pais para um banho do qual eles nunca mais voltaram, levaram meu irmão dentro de um trem que eu nunca soube para onde foi, levaram o meu sorriso, a minha alegria de viver, levaram a minha infância, só não levaram a minha voz e por isso, todas as noites ao deitar, eu fechava os olhos e cantava baixinho Edelweiss e aí eu podia ver as estrelas, o meu pai, a minha mãe, o meu irmão, a varanda da nossa casa....
A minha imaginação eles também não conseguiram levar...

Hoje eu tenho a absoluta certeza que realmente eu nunca teria me cansado de cantar na varanda com a minha família, que eu, de forma alguma, abandonaria o meu país, que minha mãe foi a pessoa mais doce que eu conheci, que meu pai foi a imagem da dignidade, que meu irmão foi o meu grande companheiro e que tocava violão como ninguém.

Hoje eu sei a verdadeira razão das lágrimas de meus pais ao se despedirem de mim apenas porque iriam tomar um banho e o motivo do abraço tão apertado que meu irmão me deu naquela tarde em que foi colocado dentro daquele trem.

Hoje eu sei de tantas coisas que eu não queria saber, sei que os homens podem agir como animais ferozes, sei que raças, credos, religiões, são apenas subterfúgios que o homem usa para deixar o leão que existe dentro deles despertar.

Hoje eu sei que o tempo é poderoso, mas não tão poderoso a ponto de apagar qualquer coisa que tenha sido muito boa ou muito ruim.

Hoje eu sei finalmente, que a saudade é o campo de concentração do coração.

Hoje eu sei que o maior tesouro que existe na vida é a paz.


Copie com amor, conserve o nome do autor.








Edelweiss

Richard Rodgers & Oscar Hammerstein II


Edelweiss, Edelweiss

Every morning you greet me
Toda manhã você me cumprimenta

Small and white, clean and bright
Pequena e branca, clara e brilhante

You look happy to meet me
Você parece feliz por me encontrar

Blossom of snow may you bloom and grow
Floco de neve, que você possa desabrochar e crescer

Bloom and grow forever
Desabrochar e crescer pra sempre

Edelweiss, Edelweiss

Bless my homeland forever
Abençoe a minha terra pra sempre.


quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

O tempo que foge - Ricardo Gondim









Namaste!


O tempo que foge


'Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver
daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquela
menina que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ela
chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados.
Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir
quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos.
Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos
para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem
para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio.

Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir
estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas,
que apesar da idade cronológica, são imaturos.

Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões
de 'confrontação', onde 'tiramos fatos a limpo'.
Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo
majestoso cargo de secretário geral do coral.
Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: 'as pessoas
não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a
essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente
humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta
com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não
foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados,
e deseja tão somente andar ao lado do que é justo.

Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, desfrutar desse

amor absolutamente sem fraudes, nunca será perda de tempo.'

O essencial faz a vida valer a pena.

Ricardo Gondim



Copie com amor, conserve o nome do autor.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Quase -






Namaste!


Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase.

É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.

Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.

Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.

A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.

Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.

O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém,preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.

Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo.

De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.

Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.

Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.

(Autoria atribuída a Luís Fernando Veríssimo, mas que ele mesmo diz ser de Sarah Westphal Batista da Silva, em sua coluna do dia 31 de março de 2005 do jornal O Globo)

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A menina e o pássaro encantado - Rubem Alves







Namaste!

A menina e o pássaro encantado

Era uma vez uma menina que tinha um pássaro como seu melhor amigo.
Ele era um pássaro diferente de todos os demais: era encantado.
Os pássaros comuns, se a porta da gaiola ficar aberta, vão-se embora para nunca mais voltar. Mas o pássaro da menina voava livre e vinha quando sentia saudades… As suas penas também eram diferentes. Mudavam de cor. Eram sempre pintadas pelas cores dos lugares estranhos e longínquos por onde voava. Certa vez voltou totalmente branco, cauda enorme de plumas fofas como o algodão…

— Menina, eu venho das montanhas frias e cobertas de neve, tudo maravilhosamente branco e puro, brilhando sob a luz da lua, nada se ouvindo a não ser o barulho do vento que faz estalar o gelo que cobre os galhos das árvores. Trouxe, nas minhas penas, um pouco do encanto que vi, como presente para ti…

E, assim, ele começava a cantar as canções e as histórias daquele mundo que a menina nunca vira. Até que ela adormecia, e sonhava que voava nas asas do pássaro.
Outra vez voltou vermelho como o fogo, penacho dourado na cabeça.

— Venho de uma terra queimada pela seca, terra quente e sem água, onde os grandes, os pequenos e os bichos sofrem a tristeza do sol que não se apaga. As minhas penas ficaram como aquele sol, e eu trago as canções tristes daqueles que gostariam de ouvir o barulho das cachoeiras e ver a beleza dos campos verdes.

E de novo começavam as histórias. A menina amava aquele pássaro e podia ouvi-lo sem parar, dia após dia. E o pássaro amava a menina, e por isto voltava sempre.
Mas chegava a hora da tristeza.

— Tenho de ir — dizia.

— Por favor, não vás. Fico tão triste. Terei saudades. E vou chorar…— E a menina fazia beicinho…

— Eu também terei saudades — dizia o pássaro. — Eu também vou chorar. Mas vou contar-te um segredo: as plantas precisam da água, nós precisamos do ar, os peixes precisam dos rios… E o meu encanto precisa da saudade. É aquela tristeza, na espera do regresso, que faz com que as minhas penas fiquem bonitas. Se eu não for, não haverá saudade. Eu deixarei de ser um pássaro encantado. E tu deixarás de me amar.
Assim, ele partiu. A menina, sozinha, chorava à noite de tristeza, imaginando se o pássaro voltaria. E foi numa dessas noites que ela teve uma ideia malvada: “Se eu o prender numa gaiola, ele nunca mais partirá. Será meu para sempre. Não mais terei saudades. E ficarei feliz…”

Com estes pensamentos, comprou uma linda gaiola, de prata, própria para um pássaro que se ama muito. E ficou à espera. Ele chegou finalmente, maravilhoso nas suas novas cores, com histórias diferentes para contar. Cansado da viagem, adormeceu. Foi então que a menina, cuidadosamente, para que ele não acordasse, o prendeu na gaiola, para que ele nunca mais a abandonasse. E adormeceu feliz.

Acordou de madrugada, com um gemido do pássaro…

— Ah! menina… O que é que fizeste? Quebrou-se o encanto. As minhas penas ficarão feias e eu esquecer-me-ei das histórias… Sem a saudade, o amor ir-se-á embora…
A menina não acreditou. Pensou que ele acabaria por se acostumar. Mas não foi isto que aconteceu. O tempo ia passando, e o pássaro ficando diferente. Caíram as plumas e o penacho. Os vermelhos, os verdes e os azuis das penas transformaram-se num cinzento triste. E veio o silêncio: deixou de cantar.

Também a menina se entristeceu. Não, aquele não era o pássaro que ela amava. E de noite ela chorava, pensando naquilo que havia feito ao seu amigo…

Até que não aguentou mais.

Abriu a porta da gaiola.

— Podes ir, pássaro. Volta quando quiseres…

— Obrigado, menina. Tenho de partir. E preciso de partir para que a saudade chegue e eu tenha vontade de voltar. Longe, na saudade, muitas coisas boas começam a crescer dentro de nós. Sempre que ficares com saudade, eu ficarei mais bonito. Sempre que eu ficar com saudade, tu ficarás mais bonita. E enfeitar-te-ás, para me esperar…

E partiu. Voou que voou, para lugares distantes. A menina contava os dias, e a cada dia que passava a saudade crescia.

— Que bom — pensava ela — o meu pássaro está a ficar encantado de novo…
E ela ia ao guarda-roupa, escolher os vestidos, e penteava os cabelos e colocava uma flor na jarra.

— Nunca se sabe. Pode ser que ele volte hoje…

Sem que ela se apercebesse, o mundo inteiro foi ficando encantado, como o pássaro. Porque ele deveria estar a voar de qualquer lado e de qualquer lado haveria de voltar. Ah!

Mundo maravilhoso, que guarda em algum lugar secreto o pássaro encantado que se ama…
E foi assim que ela, cada noite, ia para a cama, triste de saudade, mas feliz com o pensamento: “Quem sabe se ele voltará amanhã….”

E assim dormia e sonhava com a alegria do reencontro.


* * *

Para o adulto que for ler esta história para uma criança:
Esta é uma história sobre a separação: quando duas pessoas que se amam têm de dizer adeus…
Depois do adeus, fica aquele vazio imenso: a saudade.
Tudo se enche com a presença de uma ausência.
Ah! Como seria bom se não houvesse despedidas…
Alguns chegam a pensar em trancar em gaiolas aqueles a quem amam. Para que sejam deles, para sempre… Para que não haja mais partidas…
Poucos sabem, entretanto, que é a saudade que torna encantadas as pessoas. A saudade faz crescer o desejo. E quando o desejo cresce, preparam-se os abraços.
Esta história, eu não a inventei.
Fiquei triste, vendo a tristeza de uma criança que chorava uma despedida… E a história simplesmente apareceu dentro de mim, quase pronta.
Para quê uma história? Quem não compreende pensa que é para divertir. Mas não é isso.
É que elas têm o poder de transfigurar o quotidiano.
Elas chamam as angústias pelos seus nomes e dizem o medo em canções. Com isto, angústias e medos ficam mais mansos.
Claro que são para crianças.
Especialmente aquelas que moram dentro de nós, e têm medo da solidão…

As mais belas histórias de Rubem Alves

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domingo, 11 de outubro de 2009

A felicidade realista








Namaste!


A FELICIDADE REALISTA
Martha Medeiros


A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos. Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis.
Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa cinco estrelas.
E quanto ao amor? Ah, o amor... não basta termos alguém com quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho maiúsculo. Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser surpreendidos por declarações e presentes inesperados, queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo, queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e não de outro jeito.
É o que dá ver tanta televisão.
Simplesmente esquecemos de tentar ser felizes de uma forma mais realista.
Ter um parceiro constante, pode ou não, ser sinônimo de felicidade. Você pode ser feliz solteiro, feliz com uns romances ocasionais, feliz com um parceiro, feliz sem nenhum. Não existe amor minúsculo, principalmente quando se trata de amor-próprio.
Dinheiro é uma benção. Quem tem, precisa aproveitá-lo, gastá-lo, usufruí-lo. Não perder tempo juntando, juntando, juntando. Apenas o suficiente para se sentir seguro, mas não aprisionado. E se a gente tem pouco, é com este pouco que vai tentar segurar a onda, buscando coisas que saiam de graça, como um pouco de humor, um pouco de fé e um pouco de criatividade.
Ser feliz de uma forma realista é fazer o possível e aceitar o improvável.
Fazer exercícios sem almejar passarelas, trabalhar sem almejar o estrelato, amar sem almejar o eterno.

Olhe para o relógio: hora de acordar.
É importante pensar-se ao extremo, buscar lá dentro o que nos mobiliza, instiga e conduz mas sem exigir-se desumanamente.
A vida não é um jogo onde só quem testa seus limites é que leva o prêmio. Não sejamos vítimas ingênuas desta tal competitividade. Se a meta está alta demais, reduza-a. Se você não está de acordo com as regras, demita-se. Invente seu próprio jogo. Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade. Ela transmite paz e não sentimentos fortes, que nos atormenta e provoca inquietude no nosso coração. Isso pode ser alegria, paixão, entusiasmo, mas não felicidade.


Copie com amor, conserve o nome do autor.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

O workshop de xamanismo





Namaste!

O texto é longo, mas vale as boas risadas que damos no decorrer de toda a leitura...nas brincadeiras estão ditas grandes verdades...o que tem por aí de pessoas vendendo “cursos” infalíveis de ascensão, curas espirituais ou coisas parecidas...Não chegaremos à ascensão ou nirvana com esses cursos fantásticos...para isso é necessário muita prática espiritual e isso é grátis, pois você faz em sua casa e dentro de seu coração, e ajudando ao próximo sem pretensões, sendo realmente BOM com todos... no máximo você pode gastar em livros espirituais que são baratos, para adquirir o conhecimento e com a prática terá a sabedoria... vamos lá, é só consultar o coração...Jesus ascensionou...alguém soube que cursinho ele fez??? E Buda chegou ao Nirvana?? Mas como???...não comprou a apostila nem recebeu as 8 iniciações????


Vamos lá pessoas...abram os olhos e fechem os bolsos...
Claro que existem bons cursos no esoterismo mas é preciso procurar por cursos dados por pessoas que você conhece a índole ou teve indicação confiável...há tantos que falam em nome de Seres da Luz e nem sequer fazem uma prece por dia, ou fazem algum tipo de caridade à alguém, usam a espiritualidade para o comércio, ganhos financeiros somente...ah, os falsos profetas...eu conheci e conheço vários...e na ativa...cujo lema é : faça o que eu digo mas jamais revelam...e não façam o que eu faço...cuidado com isso...

Leiam o texto...que me perdoem os xamãs sérios, mas estes sabem que há muitos casos como esse escrito no texto ...

Boas risadas para você...

Rose Colaneri




O Workshop de Xamanismo
Valdenir Benedetti


E lá fui eu no tal de workshop de xamanismo. Bem, faz tempo que minha mulher tá insistindo que eu tenho que entrar na nova era, que eu já era, que não to com nada. Dai li o anúncio do tal de workshop de xamanismo. Que coisa meu! Se tem um nome desses deve ser muito legal. Workshop, venda de trabalho né? Bem, vamos lá. Tá na hora de eu tomar uma atitude na vida mesmo, como vive dizendo a Rosinha todo dia.

Sei lá como apareceu um folheto em minha mesa, achei até que era gozação dos colegas. O pessoal aqui da firma é muito gozador. Colorido, bonito, cheio de desenhos de animais, tigres, águias, coisa linda mesmo. Anunciava um curso de final de semana que prometia resgatar nosso poder interior, conectar a gente com a luz (isso me impressionou), resgatar nosso animal de poder, enfim, algumas coisas que eu não fazia a menor idéia do que se tratavam. O "facilitador" era um gringo bonitão de rabo de cavalo nos cabelos e olhar penetrante. Bem, "facilitador" deve ser uma coisa bem moderna, bem nova era.

Liguei para pedir informações, a mocinha que me atendeu foi muito simpática. Só que se espantou um pouco quando eu disse a ela que eu era auxiliar de contas a pagar. O que um auxiliar de contas a pagar vai fazer num trabalho desses? Bem, fiquei imaginando que tipo de pessoas faria um tal de workshop de xamanismo, ainda mais com um especialista americano que diziam ser o ó do assunto. Será que auxiliar de contas a pagar não é gente? Não pode querer evoluir e se encontrar, como era prometido no anúncio?

Bem, eu não sou uma pessoa lá muito sofisticada. Tive que trabalhar a vida inteira para me sustentar e depois que eu casei então ficou mais complicado ainda. Hora extra todo fim de semana e algum bico para ajudar nas despesas, tipo fazer imposto de renda do povo no começo do ano, época que faturo um pouquinho mais. Só por isso tinha uma reservinha para fazer o tal do workshop e tentar "dar um salto quântico na minha vida", como dizia o folheto, e seja lá o que for "salto quântico" na vida da gente. Bem, to imaginando que pelo preço não deve ser algo que doa. Só no bolso né?

Bem, vou contar pra vocês a historia desse curso de final de semana que por se chamar workshop custa os olhos da cara. Esse povo é sabido pacas. Mas também tem uma coisa, agora estou na nova era! Paguei meu pedágio. Se não valeu ainda, só o ano que vem vou poder fazer outro. Dessa vez vai ser de renascimento, vocês vão ver só!!!

Bem, vamos lá.

Primeira Parte- A CHEGADA

Bem, antes de falar da chegada, deixa eu falar da partida.

Rosinha estava orgulhosa. Fazia tempo que eu não via ela aprovar nada do que eu fazia. Só reclamava de meus amigos e do futebol no fim de semana, não sei porque ela se incomodava tanto. Era para manter o físico ué, afinal a barriguinha já estava ficando proeminente e lá pelo menos eu gastava um pouco da cerveja consumida no happy hour de sexta feira com os colegas da firma.

As crianças estavam felizes, parece que o contentamento da mãe pegou nelas. Nesse momento eu vi que estava fazendo a coisa certa, até me esqueci da falta que ia fazer a grana que estava gastando e, cheio de orgulho e de vontade parti para o ponto de encontro para ir ao workshop.

Fomos de "besta", um grupo de umas 15 pessoas. O guru americano e as organizadoras (sempre são mulheres, ouvi dizer, sabe Deus porque) foram de carro na frente. Foi meu primeiro contato com os fazedores de workshop e futuros xamãs. Coisa interessante, gente de todo tipo, mas ninguém que fosse um auxiliar de contas a pagar como eu. Me senti meio inferiorizado no meio daquele povo, umas gatinhas com cara de inteligente, uns rapazes cabeludos com cara de "especial", só gente diferente, tipo meio cult dessas que se encontra em festival de cinema europeu e concerto de jazz, e só ai reparei que estava de gravata. Saco! Tentei tirar disfarçado rapidinho, mas nem sei se consegui. De qualquer forma, todo mundo fez que não viu. A gravata é tão natural para mim que parece que faz parte de meu corpo. Também, mais de 20 anos de escritório usando esse treco no pescoço, até sinto falta quando estou sem ela. É uma verdadeira amiga que me consola nos momentos de agonia, eu fico alisando ela, suave, gostosinha, até sinto falta daquele apertadinho quentinho quando estou sem ela.

Mais tarde aprendi, durante o curso, que a gravata é um objeto de poder pra mim. O americano que sabia tudo de tudo que me disse, quer dizer, a tradutora que ficava babando e parecia mais importante que ele me disse que ele disse e eu tive que acreditar, mesmo porque o máximo que eu sei falar de inglês é big mac e coca cola. Mas quem diria hein? A prosaica gravata é um objeto de poder! Quando o povo do escritório souber que essa coisa colorida é um objeto de poder vai rachar o bico. Mas eu gostei e senti menos vergonha de ter que usar essa coisa todo dia.

Bem, mas vamos falar da chegada propriamente dita.

O lugar, um sitio especialmente preparado para esse tipo de coisas. Com chalés e estrutura bem boa, grama linda e árvores. A dona do lugar, vestida com saias longas, coloridas e manchadas, cheia de pulseiras, colares e anéis, com um cabelo que era simplesmente indescritível e por isso não vou nem me arriscar a descrevê-lo, era uma tal de Nuvem Púrpura, bem, ela disse que esse era mesmo o nome dela, Nuvem Púrpura da Silva, e que seu pai era fã apaixonado por um tal de Hendrix, mas que preferia ser chamada de "Shandranua" que é o nome que um guru indiano deu uma vez pra ela. Bem, vai entender esse povo né?

Nuvem Púrpura, quer dizer, Shandranua recebeu a todos com um sorriso, e abraçou cada um de nós, homens e mulheres, com uma certa intensidade e intimidade. Bem apertadinho. Parecia que estava recebendo um amante que tinha saído pra comprar cigarros e voltou uns 15 anos depois. Fiquei completamente sem graça com aquela dona me apertando, inclusive na parte de baixo, quase um amasso. Que coisa meu! Acho esse povo muito estranho, mas vou relaxar porque senão vai ser difícil aceitar isso. Se a Rosinha abraçasse um cara como essa dona me pegou eu largava dela na hora.

O povo, depois dessa cumprimentação toda, pegou suas tralhas e cada um foi pro chalé que a dona do "amasso" indicou. Todo mundo tinha mochila e umas sacolinhas coloridas, só eu estava com minha mala de viagem chinesa. Ninguém me avisou disso, que saco.

Fiquei num quarto com mais três caras, um deles, o mais jovem, era o filho de um milionário que estava buscando uma alternativa existencial de renovação, a conselho de seu psiquiatra. Esse ai tinha que tomar uns 4 ou 5 comprimidos antes de dormir, e outro tanto durante o dia, mas mesmo assim, de vez em quando escorria um fino fio de baba do lado esquerdo de sua boca, mas estranhamente, parece que ninguém reparava nisso, só eu. Será que sou muito babaca ou muito preconceituoso?

O outro era um executivo que vivia fazendo cursos para encontrar a si mesmo. Ele já tinha ido até para a Índia e o Nepal, tinha ido para Ilha de Páscoa e Machu Pichu, tudo em busca de si mesmo. Achei muito esquisito esse papo porque não entendi nada. O cara tava ai na minha frente e saia pra procurar ele do outro lado do mundo? Perguntei se ele tinha se encontrado, e ele disse que estava em processo, estava cada vez mais próximo de si mesmo. Cara! Que piração. Acho que o cara era doidinho com esse papo. Coisa mais esquizofrênica sô!

Meu outro companheiro de quarto era um gay assumido, um intelectual que sabia tudo de candomblé. Acho que o cara era até meio pai de santo, só falava de Ogum, Oxum, Ananaraie não sei o que e coisas assim. Ninguém ligava que o cara era viado, que no meio desse povo que está em busca da "verdade" num curso de final de semana não cabe preconceito de tipo nenhum. Claro que eu disfarcei e nem tirei um sarro do boiola, achei melhor fingir que nem ligava de ficar num quarto com um viadinho. Resisti bravamente à tentação de tirar uma com o cara, mas enfim, acho que ja comecei a evoluir e entrar na nova era, deve ser por ai o caminho. Puxa! O curso já começou a fazer efeito e nem começou de verdade ainda! Que coisa hein? Ta valendo a grana! Rosinha vai pirar com o novo cara que vai voltar dessa vivencia, ops, desse workshop.

Depois de uma sopa com gosto de incenso e algum negócio natureba meio gosmento que prefiro nem saber o que é, fomos dormir.

Bem, aconteceu o seguinte nessa primeira noite: o pai de santo gay falava coisas em africano a noite inteira, era um tal de "ogunhe salun salamalun poroxotóqui" que não acabava mais. O rapaz dos comprimidos dava pulos e gritava a noite inteira igual um desesperado sendo espremido num moedor de cana. O executivo peregrino gemia muito e no meio dos gemidos gritava "mami, mami, não me abandone" com vozinha de criança. Bem, acho que ninguém se incomodou com meus roncos, se bem que só consegui dormir de madrugada.

Segunda Parte:
Acho que vai Começar o Workshop


Eu gosto de todo tipo de musica, do bolero ao samba canção, do rock ao axé e por isso não estou muito acostumado com esse tipo de musica que fica nhénnnn nhénnnn nhénnnn que não acaba mais, e de vez em quanto toca um sininho no meio. Eu ficava esperando a hora que tocava o sininho para tentar ficar acordado e me distrair um pouco. E olha que tocava o dia todo, quase não dava para perceber quando mudava de uma musica para outra. Chegou uma hora que eu nem escutava mais, ainda bem, senão seria um sono só. Que chatura aquilo!

E foi com uma musica dessas, tocada a todo volume, que acordaram a gente. Bem, no começo eu não sabia que aquilo era musica, demorei pra entender o negócio. Um gemido sem fim com umas batidinhas no meio e o inevitável sininho que fazia "pin", mas só que demorava pra caramba esse "pin". No começo, ainda meio sonado, achei que era parte dos roncos ou da sinfonia de gemidos daquele povo, mas no fim acabei sacando que aquilo era a musica de workshop. Parece que são todos mais ou menos assim, ouvi dizer. Deu até saudades de um sambinha.

Eram seis da matina e tivemos todos que pular da cama, principalmente na hora que a Shandranua entrou no quarto e com sua voz "new age" (sim, por incrível que pareça existe isso. Todo mundo aprende falar com voz new age nesses workshops) e foi, meio ronronante, meio sussurante dizendo: "bom dia meus irmãozinhos! Está um lindo dia! O pai sol está sorrindo para nós! Vamos todos despertar para a vida! O céu está azul radiante! Os pássaros estão cantando sua sinfonia!" e mais uma seqüência de frases do tipo que dava mesmo era vontade de continuar dormindo.

Fomos todos para o salão de refeições. Todo mundo com cheiro de banho tomado e aquele cheiro de shampo de flores silvestres, e prontos para começar nossa aventura do auto-conhecimento, como ouvi alguém dizer.

O café da manhã foi muito bom. Pão integral feito em casa, leite tirado diretamente da vaquinha da casa, queijo feito em casa, ovos das galinhas da casa, café plantado e colhido em casa, manteiga feita em casa, geléia feita em casa. Tudo natural e bom, e se eu encontrar vendendo dessa marca por ai vou comprar pra levar pra Rosinha. Ela vai gostar.

Shandranua, nossa anfitriã, não parava de elogiar as coisas "feitas em casa" dela. E todo mundo concordava para ver se ela parava um pouco de falar, mas não funcionou muito.

O nosso "faciltador", que chamarei de Mr. Hi (porque é assim que o pessoal o chamava) tomou café da manhã junto com todo mundo, quer dizer, em uma mesa tomada pelas suas fãs. O cara é mesmo um gostosão, mas acho que vou me controlar nesses meus comentários senão vão pensar que eu estava com inveja. Vai que o cara é gay né? (ops! Olha a inveja rapaz!)

Quando todo mundo terminou de encher a pança, Mr. Hi se levantou e foi para o páteo onde aconteceriam os trabalhos. Todos se levantaram e o seguiram.

TERCEIRA PARTE:
Finalmente começa o Workshop (ufa!)


Eu confesso que estava meio sem graça com aquele povo. Eles eram muito diferentes de mim, e apesar de ninguém me olhar de modo esquisito, eu achei que esse negócio de não olhar com estranheza para os esquisitos (pra eles eu era o que? Um tremendo esquisito, claro) era um procedimento padrão, afinal, esquisitos é o que não faltava ali.

O primeiro exercício foi a apresentação de todo mundo. Cada um de nós tinha que escolher um "nome de trabalho" que seria usado durante todo o final de semana, e se a pessoa gostasse do nome, podia adotá-lo para o resto da vida.

Seria nosso "nome de guerreiro".

Graças a Deus que não entrei nessa, e vocês saberão já porque.

O nome tinha que ser correspondente ao que estava sentindo em relação a si mesmo, e o Mr. Hi insistiu que deveríamos ser verdadeiros, mesmo que o nome fosse uma coisa feia ou meio ridículo.

Bem, eu estava me sentindo absolutamente ridículo no meio daquilo tudo, e fazendo o maior esforço para não me arrepender de não ter usado aquela grana toda para trocar os pneus do carro da Rosinha (só ela tem carro em casa), que bem que estavam precisando... bem, mas não era hora de pensar nisso. Era hora de escolher um nome que revelasse meu sentimento sobre mim mesmo naquele instante. Ridículo não seria um nome muito apropriado, até mesmo porque já não era mais original. É como, já que estou na chuva é pra me molhar, então vou levar o negócio a sério e vou até o fim, doa o quanto doer. Eu preciso entrar nessa tal de nova era pra ver se a Rosinha fica mais carinhosa um pouquinho comigo e para de me criticar e me chamar de quadrado e múmia e coisas assim.

Escolhi o nome que revelava exatamente como eu estava me sentindo no meio daquele povo.

Eu prestei bastante atenção na primeira pessoa que parou na minha frente para nos apresentarmos. Era uma moça muito bonita, provavelmente daquelas que andam em seus carrinhos que nem relâmpago no transito, para desespero dos motoristas de taxi, tipo carinha de estudante de psicologia da PuC ou algo assim. O olhar um tanto blazê, mas que era bonitinha era.

"Eu sou Morgana, estudante de psicologia" disse ela me olhando nos olhos (puxa, adivinhei que ela era estudante de psicologia, eita workshop danado de bom esse! Já estou "abrindo os canais", como dizem).

Nossa! Que nome legal essa mulher escolheu. Muito criativo e original. onde será que ela arrumou um nome desses? Fiquei até meio com vergonha de dar o nome que eu tinha pensado, não era tão especial e inédito assim, mas como eu resolvi assumir a verdade doesse o quanto doesse, fui em frente e disse: "Sou Bocó", ao seu dispor!

Que merda! A mulher caiu na gargalhada! Saco! Eu sabia, eu bem que sabia que tinha que ter escolhido um nome mais legal! Quis ser honesto e me ferrei. A mocinha não conseguia para de rir.

Todos os outros ficaram meio assim sem graça porque não estavam entendendo o que estava acontecendo, mas quando ela ria histericamente e dizia "Bocó, ahahahaha, Bocó, ahahahaha" alguém perguntou: "porque você está agindo assim com o rapaz?" (eu era o rapaz, claro), e ela só conseguia dizer: "bocó! Ahahahaha , bocó! Ahahahaah". Já estava ficando chato aquilo. Eu estava mais vermelho que um pimentão, como dizem.

De repente alguém entendeu que "Bocó" era o meu apelido nova era (esqueceram de que era para expressar o sentimento do momento, conforme orientou o Mr. Hi), e um por um foram todos caindo na gargalhada e foi o maior tumulto!

A tradutora assistente do Mr. Hi (será que ele estava comendo ela?) apareceu com um sininho no qual ela batia histericamente com um pauzinho tentando acalmar a turma, mas demorou um pouco para as risadas pararem, e mesmo assim de vez em quando algum riso meio soluçado escapava de alguém, ameaçando detonar novamente a onda de gargalhadas.

Acho que o povo estava com muita tensão reprimida, por isso riram tanto. Uma psicóloga do grupo me explicou isso mais tarde. Bem deve ser, mas que ela riu até ter que ir fazer xixi correndo, riu, que eu vi!

Bem, seja como for, já me tornei de imediato o cara mais popular da turma, era um tal de Bocó pra cá, Bocó pra lá que não acabava mais. De vez em quando alguém dizia "pergunta pro Bocó". Bem, acho que era alguma ironia de gente mais presunçosa, mas prefiro pensar que quem vem buscar auto conhecimento nesses cursos é gente que, por não ter ainda o auto conhecimento e por isso mesmo pagou para vir buscar, respeita a falha e deficiência de auto conhecimento dos outros. Vou pensar assim para não achar meus companheiros de workshop uns metidos a besta. Me recuso a acreditar que gente metida a besta venha fazer esse tipo de trabalho.

Bem, depois dessa interrupção toda, continuaram as apresentações.

Parei em frente à pessoa seguinte, uma mulher com cara de séria, psicóloga já formada na Puc e ela disse: "Feiticeira da Noite, psicóloga". Bem, Feiticeira da Noite deve ser o que ela estava sentindo quando escolheu esse nome. Que tipo de sentimento é esse não sei, mas deve ter a ver alguma coisa com a vontade de ser bruxa. Até que, pelo tamanho do nariz dela, ela não teria muita dificuldade para chegar lá. Já tinha mais de meio caminho andado (ops! Comporte-se rapaz! Esse tipo de comentário jocoso não é próprio de gente do auto conhecimento).

"Bocó, auxiliar de contas a pagar" disse eu, olhando fixo nos olhos dela. Bem, ela não caiu na gargalhada, mas acho que teve que fazer tanta força pra segurar a risada que teve que ir correndo de novo no banheiro pra soltar o ar reprimido dentro dela. Foi essa mesma que me disse a analise dela dos conteúdos reprimidos e tal do povo. Bem...

Acho que vou pular as apresentações que o assunto está entediante. Entre risadas apertadas e disfarçadas e um monte de Fadas do Entardecer, Guerreiro do Infinito, Raio de Sol, Duende da Harmonia, Liliths e outras combinações disso mais aquilo, todo mundo acabou se apresentando e Mr. Hi, que tinha ficado sentado em uma cadeirona bebendo uma laranjada enquanto nos submetíamos àquela primeira experiência, levantou-se, pegou um tambor cheio de penas penduradas e disse:

"You ta ta ta, ta ta ta, te te te, ay, ay ,ay...." que a tradutora (graças a Deus!) traduziu assim: "Vocês agora vão fazer uma viagem ao túnel do inconsciente para encontrar seu animal de poder!" (de agora em diante vou pular a fala do Mr. Hi que não entendo patavina de inglês e vou direto pra fala da tradutora).

É o seguinte, tínhamos que relaxar, imaginar estar entrando em uma floresta e caminhar ao som das batidas do tambor, caminhar, caminhar até encontrar a entrada de uma caverna. Daí a gente entrava na caverna e ia andando até encontrar um animal. Mr. Hi disse que tinha certeza que encontraríamos um animal em nosso caminho. Provavelmente ele se aproximaria da gente e iria se comunicar de alguma forma. Deveríamos trazer esse animal conosco no retorno de nossa viagem xamânica e ele seria um tipo de companheiro para o resto de nossas vidas, e seria o nosso animal de poder, ao qual poderíamos recorrer sempre que houvesse necessidade.

Bem, vamos lá né gente? Deitei no colchonete e fiquei ligado no tambor, fazendo direitinho o que foi falado para fazer. Caminhei um bocado pela floresta e nada de achar a tal caverna. Saco! Comecei a ficar meio aflito que não tinha caverna nenhuma. Será que eu não estava fazendo direito? Abri um olho e dei uma espiada disfarçada pro lado. Todo mundo que eu vi estava com a maior cara de felicidade, pareciam estar indo para o paraíso. Saco! Saco! Saco!

Lembrei da grana que tinha pago para fazer esse workshop. Foi dinheiro economizado das horas extras que eu fiz de final de semana. Dinheiro suado economizado tostão por tostão do que a gente conseguia fazer sobrar comprando carne de segunda, deixando de ir no cinema e nunca gastando dinheiro e restaurantes. Até pizza a Rosinha fazia em casa pra gente economizar que na pizzaria fica muito cara e feita em casa sai bem baratinho. E olha que a pizza da Rosinha é um arrazo, especialmente a de catupiri com alho e uma que ela inventou de chicória, alho e erva-doce, acho que meio uma pizza assim nova era não é? Lembrei das crianças e do que poderia ter comprado para elas, o videogame que o Edenilson, o mais velho, tanto queria, a boneca Barbie que era o sonho da Edinalva, a mais novinha. Saco!

E o tambor batendo, e nada de caverna.

Estava pensando na Rosinha. No que eu diria pra ela? Ela estava tão feliz por eu ter pela primeira vez na vida ousado fazer alguma coisa diferente. Eu não podia decepcioná-la, tinha que encontrar meu animal de poder.

Estava imerso nesses pensamentos quando e repente o tambor parou. Mr. Hi disse para voltarmos lentamente e trazermos em nossa consciência e em nossos corações o animal que tínhamos encontrado na caverna. Esse seria nosso animal de poder.

Bem, não tinha passado nem meia hora. Como esse povo é esperto e rápido hein? Acho que tenho mesmo muito que aprender.

Eu estava morrendo de vergonha e arrependimento. Já me sentia ridículo e humilhado por causa do nome de guerreiro que tinha escolhido em minha inocência de querer ser honesto comigo mesmo. Estava agora me sentindo mais fraco e ridículo ainda, pois todos foram se levantando com um sorriso vitorioso, provavelmente trazendo seus animais de poder junto e eu, nadica de nada. Saco!

O que eu diria para Rosinha?

"Posso falar?" quase que gritou uma moça.

"Pode sim, Violeta Cósmica" Disse o Mr. Hi, "estamos aqui para compartilhar nossas experiências entre todos".

Gente, realmente a voz de "new age" do Mr. Hi era demais! Passava uma serenidade e sabedoria de arrepiar, mesmo pra quem não sabia falar inglês como eu. Além do mais, o cara lembrava o nome de todo mundo! Que memória.

Bem mas também, "Violeta Cósmica" é de lascar, até eu lembrava esse, e me lembro inclusive que fiquei um tempão pensando em como essa figura foi encontrar um nome desses. Que coisa.

"Eu encontrei a caverna", disse ela com sua voz meio pro tipo daquelas moças que anunciam a chegada e partida de aviões no aeroporto, onde aliás as crianças adoram ir aos domingos ver avião subindo e descendo.

"E fui escorregando para dentro dela até que ficou plano e eu cheguei em um caminho cheio de flores lindas e perfumadas, todas branquinhas", prosseguiu a moça.

Nessa altura eu já estava com a maior inveja da Violeta! Além de eu não ter encontrado porcaria de caverna nenhuma, a dela ainda tinha arranjo de flores! Pode uma coisa dessas? Imaginei até a igreja no dia do meu casamento, tinha flores brancas em todo o caminho até o altar, exigência da Rosinha (lembro que custou uma nota esse capricho, ainda bem que o tio rico dela pagou tudo). Ela ia adorar a viagem xamânica da Violeta Cósmica.

"Depois de muito caminhar por esse caminho lindo e suave, saltar alguns regatos de águas cristalinas e puras...", bem, daí acho que ela estava exagerando um pouco. Como podia saber que as águas dos tais regatos eram puras? Bom, acho que um riacho dentro de uma caverna xamânica só pode ter água pura, tem lógica.

Então ela prosseguiu: "... então eu vi uma sombra se movendo por traz das touceiras de flores. Levei um susto e quase voltei pra consciência. A sombra ia e vinha, não dava para ver direito o que era, passava por traz das árvores, até que de repente deu um salto e caiu em pé na minha frente. Era um gorila enorme. Preto. Imenso. Com braços enormes e musculosos, e um peitão incrível. Seus dentes eram muito brancos e assustadores, mas eu não tive medo. Ele me olhou com muita ternura e me pegou em seus braços..."

Ops! Meu Deus! Eu nessa hora não resisti de ter um pensamento bem safado sobre as preferencias sexuais da moça, mas escondi rapidinho o pensamento que afinal de contas estávamos em um grupo xamânico em busca do auto conhecimento e não era lugar de ficar pensando safadezas.

"Então", disse Violeta, "ele me trouxe de volta para a superfície, para a floresta e veio comigo. Sinto ele dentro de mim. Sinto o poder do gorila dentro de meu ser..."

Nesse instante Mr. Hi, que estava ouvindo tudo pela boca da tradutora, que pensando bem, era bem interessante e parecia muito íntima dele, bem, Mr. Hi interrompeu a historia da Violeta Cósmica e disse:

"Muito bem, você encontrou teu animal de poder. É um animal poderoso que vai te proteger e cuidar de você. Nenhum mal pode te acontecer com esse gorila junto com você. Ele lhe dará força e sabedoria".

Meu Deus! Como eu posso viver sem um animal de poder, pensei eu. Como pude viver até agora sem a proteção de um animal para cuidar de mim e me guiar? Acho que é por isso que minha vida tem sido tão difícil. Eu preciso encontrar a tal caverna, preciso muito! Já me sentia quase desesperado. Rosinha tinha razão! Eu precisava entrar na tal de nova era pra descobrir essa lacuna na minha vida e porque me sentia tantas vezes tão vazio e sem sentido. Nesse instante o pai de santo gay levantou a mão e pediu licença para falar.

"Eu quero contar minha jornada ao túnel do inconsciente", disse com força na voz. Bem, ele não tinha voz assim efeminada, pelo contrário, tinha uma voz forte bem de macho. Vai entender.

"Eu entrei no túnel e logo veio um leão se aproximando. O leão era enorme, com sua juba dourada pelos raios do sol. Chegou perto de mim e disse: sou o leão que te acompanha, sempre lutarei por você contra seus inimigos, sempre o deixarei forte e poderoso. Agradeci a ele por ser meu companheiro e lhe perguntei o nome. Buguiu N’agun Dalelê, disse ele, que quer dizer ‘poderoso rei das savanas’"

Agora foi demais! O cara é o maior viadinho, mesmo com essa aparência de macho e esse cavanhaquinho de personagem de novela. Não engana ninguém. Pô, o animal do cara é um baita leãozão! Como pode? Eu que sigo minha vida direitinho, respeito minha Rosinha, cuido dos meus filhos, trabalho feito uma mula para dar de comer a eles, nem perto do tal do túnel cheguei? Caramba, tá me dando a maior frustração essa situação. Será que por não ser sofisticado como esse povo todo eu não mereço encontrar meu animalzinho? O do cara é um leão que fala e até tem nome! Caramba!

Nesse instante o Mr. Hi interrompeu minhas lamentações mentais dizendo:

"Meu caro Querubim! Que belo animal você tem! Ele te protegera e te acompanhará em sua caminhada pelas savanas da vida"

E eu pensei, ah! Querubim! Vê se pode. O nome de guerreiro do cara é nome de anjinho, ah! Esse não engana ninguém. Se o pessoal da firma estivesse aqui iam cair matando tirando o sarro dele. Viado eles não perdoam.

Então, depois de mais umas 3 ou 4 jornadas maravilhosas por lugares fantásticos e , que nem se fosse para imaginar o tempo que tivemos daria, o Mr. Hi virou-se pra mim e disse:

"And You, Mr. Bocó?" e mais uns trecos que a tradutora traduziu, sobre eu contar minha jornada.

Eu fiquei entre mentir e inventar uma historia bem mirabolante como as que tinha ouvido, ou dizer a verdade. Bem, achei melhor dizer a verdade, pois se eu não tinha conseguido nem achar a caverna talvez a incompetência não fosse só minha. Talvez o tempo tenha sido curto demais, ou talvez ele não tenha batido direitinho no tambor, quem sabe?

QUARTA PARTE:
Encontro com meu animal
de poder, finalmente!


Falei que não tinha conseguido encontrar a boca da caverna do inconsciente ou seja lá o que for. Mr. Hi se mostrou preocupado e atento e me mandou deitar no chão e relaxar. Pediu para que todos os outros fizessem um circulo em volta de mim e ficassem me mandando sua energia com as mãos.

Disse que o primeiro animal que eu encontrasse seria meu animal de poder. Garantiu que ele estava esperando por mim em algum ponto do caminho, para eu não ter medo, para eu acreditar, etc, etc.

Deitei e vi aquele povo todo com as mãos apontadas para mim tremelicando os dedos. Achei engraçado. Aprendi, eu acho, que é assim que se faz para passar energia com as mãos. Achei interessante que todos eles já pareciam saber como era isso.

Relaxei o quanto pude com aquele bando de gente fazendo cócegas à distancia em mim e, ouvindo o tam tam do tambor do xamã. Me imaginei caminhando pela floresta e realmente encontrei a entrada de um buraco. Entrei lá e estava tudo escuro. Não tinha flor nem nada. Fui andando e meus olhos se acostumaram com a escuridão. Parece que andei uma eternidade e nada de animal nenhum aparecer.

Depois do que pareciam séculos, logo em seguida a uma curva do túnel que não tinha nada nem de bonito e nem de engraçado, era só um buraco na terra, dei de cara com, bem, vocês não imaginam com o que!

Uma barata enorme! Daquelas marronzonas e pata cheia de espetinho. Das bitelas mesmo. Nunca tinha visto uma tão grande.

A barata me olhou e eu olhei para ela. Nem sei se aquilo eram olhos, mas achei que eram. As antenas mexendo de um lado para o outro sem parar. Fiquei com nojo do bicho, fiquei com medo também, mas principalmente, fiquei apavorado de imaginar que aquela coisa era meu animal de poder.

Todo mundo tinha tigre, águia, leopardos, leões, só animais bonitões. Bem, uma barata já era demais pra mim. Até anta servia. Mas barata? Santo Samsa!

Mr. Hi interrompeu o toque do tambor e mandou eu voltar. Eu sai daquele estado e fui me sentando. Todo mundo em volta de mim esperando para saber o que o Bocó tinha para dizer.

Eu não disse nada. Fiquei com a maior vergonha de dizer que meu animal de poder era uma barata! E uma barata que nem falava comigo, só ficava mexendo as anteninhas.

Mr. Hi ficou olhando com seu olhar penetrante, me esperando revelar o que eu experimentei em minha jornada. Eu via centenas de olhos me olhando, parecia que o mundo inteiro estava me esperando revelar um segredo. Todos os outros aprendizes de xamã olhavam meio que avidamente para mim esperando, esperando... e eu ficando agoniado. Uma barata? Que nojo.

Estava tentando me desconcentrar. Só pensava em como desaparecer daquele lugar, cheguei a me imaginar entrando pelo ralo e sumindo no esgoto, cheguei a pedir socorro pra tal barata de poder ou sei lá o que. Bem, até que fazia sentido uma barata nessa coisa de sumir pelo buraco escuro da vida... to até ficando poético. Meu Deus!

Nesse instante, entre a imagem de uma caminhada pelos túneis do esgoto de mãos dadas com a barata e o sentimento de imensa vergonha de ter um animal de poder que nem ao menos falava comigo como os outros, Mr. Hi me tocou no ombro e disse: "You are with the spiriti of ISHINAYA in yourself!".

Bem, eu só ouvi o Ishinaya, seja lá que espírito for esse e na hora, por puro reflexo gritei: Saúde!

Caramba! Acho que não estava nos meus melhores dias. Foi uma gargalhada só. Puxa vida, como é que eu ia saber? Parece que todo mundo sabia o que era ter o espírito da tal Ishnaya, menos eu. Que fora! Mais um.

Fiquei mais enrolado ainda, mas até que foi bom ter acontecido isso, porque ficou mais fácil no meio das gargalhadas dizer que meu animal de poder era uma barata.

E atendendo o apelo de Mr. Hi, que estava muito sério e não riu nem um pouco, até mesmo porque acho que não entendeu o meu "saúde", disse novamente "Let’s go Mr. Bocó!", assim meio seco.

Uma barata! Falei, quase gritando, quase chorando, e aconteceu algo que não me surpreendeu nem um pouco: outra onda de gargalhadas insuportáveis.

Mr. Hi fingiu que nem ouviu as risadas. Depois de disfarçar a cara de perplexidade que ficou estampada e que me lembrarei para sempre, começou a falar. A tradutora teve que engolir o riso e traduzir o que ele dizia, entre um soluço e outro, com lágrimas nos olhos de tanto rir.

"It’s a straordinary and powerfull guide. The Cockroach!", ou seja, "É um extraordinário e poderoso guia. A Barata!", e prosseguiu dizendo que eu era um privilegiado de ter um animal de poder tão raro e especial assim. Que a barata me conduziria para o mundo subterrâneo sempre que eu precisasse, que com o poder da barata (minha barata!) eu iria a lugares onde nenhum homem foi e mais um monte de coisas especiais e interessantes que faziam valer a pena ter a barata como um animal de poder.

Olhei para o povo só pra ter o gostinho de ver o olhar de inveja deles. Tomou? Esses abestalhados que se acham melhores que os outros nem sabem ou que perderam, ou melhor, sabem agora. Eles só tem águias, leopardos e esses bichos comuns que só conhecem assistindo o mundo animal na tv a cabo.

Eu tenho uma barata!

Mr. Hi conhece seu oficio. Me convenceu direitinho que eu levava vantagem em ter uma barata comigo o resto da vida. Fiquei satisfeito e de alma lavada depois de tanta gozação pro meu lado. Esse homem é um sábio!

QUINTA PARTE:
O Encerramento do Workshop


Depois de três dias e noites inteiros de muitas vivências e experimentações xamânicas com nossos animais de poder, e depois de muitas viagens ao túnel do inconsciente, quando descobri que algumas daquelas pessoas tinham nos seus túneis verdadeiras "Disneyword" e outras um shopping center completo com floricultura, áreas de serviços e lazer e cinco salas de cinema e tudo mais que tinham direito, enquanto meu túnel era sempre pura e simplesmente um túnel, digno de uma simples e prosaica barata, chegou enfim o momento do grande encerramento do nosso workshop de xamanismo.

Até então, o grande momento do workshop, fora o primeiro e emocionante encontro com o animal de poder, foi a experiência de vivenciar a própria morte.

Ficamos todos mortos no caixão, imaginando nossos parentes e amigos se despedindo da gente. Foi muito emocionante. Pena que depois de uns 10 minutinhos de vivência, ou de mortência, Mr. Hi interrompeu as batidas no tambor e conseqüentemente nosso exercício. Tivemos que ressuscitar todos rapidinho porque senão não daria tempo de seguir o programa completo, e ainda mais estávamos perto da hora do almoço. Uma pena.

Mas voltemos ao "grand finale".

Faríamos a dança circular sagrada no estilo escocês, coisa que achei meio estranha pra um curso de xamanismo, mas parece que Mr. Hi tinha um convênio com não sei que instituição da escócia e daí era assim que tinha que ser. Ele dançou alguns passos girando e mostrou pra gente como deveríamos dançar.

A dança circular sagrada seria feita em torno da fogueira sagrada, de acordo com o modelo de dança dos pagés e morubixabas de algumas tribos, também comuns em workshops urbanos, segundo ouvi dizer, e que rendem uma boa grana para alguns índios de plantão.

A "dança circular sagrada escocesa" em volta da fogueira sagrada kaiakangue" seria feita com a incorporação dos animais sagrados de cada um de nós. Haja sagrado!

Mr. Hi jogou algumas ervas sagradas e uns pozinhos sagrados para consagrar a fogueira sagrada (ai!) e começou a dança. Tamborzinho batendo cada vez mais rápido e furioso, conduzindo todos nós para o êxtase apoteótico, como convém a um workshop desse nível.

Dancei até! Cada um fazia o barulho do seu animal de poder. Ouvia-se urros, trinados, estrilos, grunhidos e eu com minha baratinha só podia fazer "tlec, tlec, tlec" que é o único barulho que conheço da barata.

Me chamou a atenção a dança da Fada Sussurrante, uma mulher pernambucana, esposa de um deputado, que vivia de fazer vivências e workshops por todo país às custas da grana do contribuinte. Ela era bastante presunçosa e autoritária, não tinha nada de fada e muito menos de sussurrante, tratava os funcionários da pousada, inclusive Shandranua, como escravos, aos berros, só faltava bater neles. Ela foi a que mais reclamou, aliás, reclamou o tempo todo de tudo, do tempo, das instalações, do banheiro, da água, da comida e principalmente do fato do celular não pegar na pousada.

Seu animal de poder era uma serpente que fazia "fizzzzz, fizzzzz, fizzzz" o tempo todo, e ela ficava fazendo com a mãozinha como se fosse uma Cleópatra, ao mesmo tempo que empurrava as pessoas para longe dela, pois precisava de todo espaço do mundo e dizia " sssai , sssssai, sssai de perto" com sua voz sibilante de jararaca do norte.

Depois de dançarmos um bocado e estarmos todos suados e bem fedidos teve o tal do abraço ritualístico sagrado final.

Tínhamos que nos abraçar um por um para consagrar (de novo) o momento, a coisa era mais ou menos assim:

Cada um ficava parado em frente ao outro, olhava com um olhar bem new age, meio olhar de golfinho misturado com olhar de vaca tonta, daí se aproximavam em câmera lenta um do outro com um sorriso também new age nos lábios, meio estilo vegetariano, e se abraçavam. Daí um deitava a cabeça no ombro do outro e dava uns dois ou três tapinhas nas costas para consagrar o abraço, quase igual advogado faz quando cumprimenta de algum parente de cliente importante em velório da família, claro que advogado não deita a cabeça no ombro do colega.

O pior é que estávamos todos muito suados e grudentos de tanto dançar a dança circular sagrada escocesa em volta da fogueira sagrada kaiakangue, e alguns com um cheiro um tanto intenso, talvez por causa do animal de poder. Achei que essa foi a pior parte do workshop, a mais melequenta pelo menos.

Depois de um banho e o inevitável amasso de despedida com a Shandranua, que é da Silva, viemos todos embora.

Enfim, termino aqui o meu relato, o depoimento do momento que transformou minha vida e me incluiu na nova era e me tornou um verdadeiro xamã. O pessoal lá da firma vai se morder de inveja.

Serei o primeiro auxiliar de contas a pagar xamã do mundo!

E finalmente Rosinha ia me olhar com mais respeito e admiração.

O que a gente não faz pela mulher que ama hein?

EPÍLOGO

Mr. Bocó chega em casa, um pouco cansado de um final de semana de atividades intensas e inéditas pra ele, além da viagem expremido dentro de uma Van.

Rosinha o recebe com um abraço e um beijinho, as crianças saltitantes e felizes com a volta do pai.

Chamou a atenção de Rosinha o novo modo de usar a gravata de seu marido, amarrada na testa. Ficou meio um neo hippie, mas ela gostou.

Depois de um breve e resumido relato em volta de uma pizza new age que a Rosinha fez especialmente para a volta do marido, ela lhe pergunta qual é afinal seu animal de poder.

"The Cockroach" ele responde. Ela e as crianças perguntam o que é isso, que bicho é esse e ele diz : " é um poderoso animal de poder, e não encham mais o saco que não quero falar nisso, animal de poder é coisa meio secreta".

Elas percebem que é melhor não insistir senão ele vai ter um de seus ataques de chatice e mal humor, afinal é um marido e os maridos são todos mais ou menos assim.

Todos se encaminham para a sala para assistir TV, e nesse momento mr. Bocó se lembra de uma outra coisa.

Interrompe a família e fala com voz forte, anunciando algo bem importante, todos mais ou menos atentos, mas com um dos ouvidos já conectados na voz do Faustão apresentando suas pegadinhas na TV.

"Eu tenho incorporado em mim o espírito de ISHNAYA!" diz com voz tonitroante.

O que se ouve então, quase gritado por três bocas simultaneamente é um sonoro, simultâneo e espontâneo... SAÚDE!

http://www.aldeiaplanetaria.com.br/astro-sintese/Valdenir01.htm