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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

É Primavera !!





Aconteça o que acontecer em nossas vidas, o tempo não pára, a natureza segue seu curso e assim chega hoje a estação mais esperançosa que existe, a estação do florescimento, nascimento, recomeço... assim eu vejo a primavera...recomeçar com flores, cores, perfumes...tudo se move, o cinza invernal dá espaço para o colorido primaveril...é dessa maneira que a natureza se recupera da escuridão fria do inverno ...é assim que nós devemos nos reerguer perante a vida que se renova a cada flor que nasce, a cada cor que brilha nesse espaço divino e lindo que é o Planeta Terra.

Acolher na alma, no coração esse momento vivo de rara beleza é como dar mais vida às nossas vidas, é como ver o sol brilhar mais intensamente, é saber que como a natureza, nós temos que reconhecer o momento de mudar, recriar, renascer...com cor, perfume, delicadeza, beleza...alegria...mesmo que tudo seja efêmero, mas tendo sua existência intensa terá valido a pena...

E que nossos caminhos sejam muito mais FLORIDOS ...

E assim será!

Esperança é para quem sabe esperar!!!!

A música é Barcarolle de Offenbach cantada pela adorável Nana Mouskouri – Alegria sempre, na alma, no coração, mesmo que ainda não manifestada fisicamente, mas ela chegará...

Na imagem, tela de Leonid Afremov, que gosto demais, onde sinto a presença da intensidade da alma...a vida em cores vibrantes e alegres.
Que assim seja...
Assim seja
E assim será!

Rose

Primavera

Cecília Meireles


A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos sutis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.

Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardênias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efêmera.


Texto extraído do livro "Cecília Meireles - Obra em Prosa - Volume 1", Editora Nova Fronteira - Rio de Janeiro, 1998, pág. 366.



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